quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Viver mais um bocadinho


Já há algum tempo vi um programa na BBC sobre a percepção que as crianças têm em relação à morte. Explicaram que as crianças por volta dos três anos conseguiam mencionar a palavra morte, mas só aos sete conseguiam entender o que ela realmente significava... Colocaram dois miudos de três e quatro anos a passear numa mata e filmaram a descoberta deles... Um coelhinho morto. Os miúdos observaram e comentaram “He’s dead...” para terminarem com “Wake up little bunny”. A segunda filmagem mostrava o mesmo cenário com crianças de sete e oito anos, que ao encontrarem o coelhinho lamentaram o facto de estar morto e o nada se poder fazer...


Lidar com a morte...

Contam-me os meus pais que com apenas dois anos me desmanchei a chorar em pleno almoço de Domingo ao perguntar-lhes “Se vocês morrerem para quem é que fica a casa e o carro?”. Cada vez que me lembro desta frase nem sei em que pensar...

Desde pequena que lido com a possível e próxima morte do meu pai... Pura e simplesmente por ele ser muito mais velho que a grande maioria dos pais...

Por volta dos oito anos tive uma das sensações mais estranhas da minha vida... Sentada na minha cama, o quarto vazio, senti o escuro, o preto, o nada, um vazio, o vacuum... Num sobressalto e abanando a cabeça deixei de o sentir... e pensei... “A morte deve ser assim”... Desde esse momento passei a ter muito medo...

Durante muitos anos senti-me assim... Havia alturas, graças a Deus não muitas, em que chorava só de pensar que poderia perder os meus pais... chorava por pensar que também eu os poderia deixar...

Fui mãe... o medo aumentou.... ver os noticiários é um martírio... estranho mundo este filha...
Fui mãe... comecei a ficar com leves sinais de hipocondríaca... Não lhe posso faltar, não posso falhar...

Este ano... este ano foi complicado... senti mesmo de perto a possível partida do meu pai... fui muito forte enquanto pude e depois caí... Demorei algum tempo a levantar-me, mas com esse tempo aprendi a aproveitar mais a vida e tudo o que ela me dá... Aprendi a gozar melhor dia de hoje e não esperar o de amanhã... A viver um dia após o outro...

Hoje... ou melhor... há umas semanas atrás apercebi-me que esse medo, que existe, é muito menor... sinto que vivo...
Agora ao invés do enorme medo tenho esperança de viver sempre mais um bocadinho... para ver a minha filha a crescer, para viver sonhos, para fazer o ainda tanto que gostava de fazer...
Por isso... todos os dias agradeço, todos os dias sorrio...

The Sky So Big by
ArtistGjurich

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