quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Tias, tios e afins...

Tia... Não o sou e acho que nunca vou ser. Do meu lado é impossível, do outro lado não prevejo...
Mas sou tia... sou tia dos filhos dos meus amigos e gosto tanto! Tenho tantos sobrinhos!!!
Mas o outro tipo de tia eu não sou!!!
É só mesmo a minha voz ao telefone... fica alterada... entoo demasiado as vogais, faço de cada palavra uma festa, falo rápido muito rápido... E por isso colocam-me essa etiqueta... Tia!
Ainda hoje, no trabalho, ligou um cliente ao qual dei as minhas palavras acolhedoras de boas-vindas... Ao que ele me diz – Sabe como é que eu sei que é você que atende o telefone? Pelo seu “Oláááá!!!! Tudo Beeeeemmmmmm?” -. Tive um ataque de riso, é certo... mas ao mesmo tempo só me apetecia fazer “Argh!!!”.
Também uma colega minha, na altura em que estávamos em processo de selecção e lhe liguei para uma entrevista, pensou que ía encontrar uma loiraça toda emproada... Mais um “Argh!!!”.... Quando me viu e ouviu não queria acreditar que era a mesma pessoa... Já para não falar das imitações brilhantes que alguns colegas fazem... É óbvio que o “Oláááá!!!! Tudo Beeeeemmmmmm?” e o “Novidadesss?” fazem parte do alinhamento de frases a imitar...

Pois então vou-vos dar uma novidade! (mais uma...)
Todos nós temos um pouco de tia ou tio dentro de nós... a diferença é que nuns sobressai mais que noutros! Quantos “não tios” já vi eu que ao ligarem para bancos, finanças e operadoras telefónicas... começam a entoar e a prolongar as vogais?
Ser tio ou tia a falar, e não levando o caso ao exagero, é simpatia, cordialidade e extroversão... é uma capa, uma máscara profissional... se quiserem até podem chamar de defesa... Mas sabem quando é que isso acontece? Quando o telefone toca e vocês antes de o atenderem, sorriem...
Por isso, sejam tios e sorriam... do outro lado dificilmente virá um copo de água fria...

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Estás aí? Posso falar?



Mãe Lua...
Estás-me a ouvir?
Posso falar?
Posso falar ininterruptamente...
Posso falar até me cansar?
Posso dizer tudo?
Tudo o que vai na alma?
Tudo até mesmo palermices?
Posso falar de macacadas?
De sonhos frequentes?
De ideias maradas?
Posso falar de problemas?
Posso falar de loucuras?
Posso falar?

Ei! Ainda aí estás?
Ouve-me...
Deixa-me aninhar
Deixa-me falar...
E ouve-me...

É tanta coisa...
Posso falar de anjos?
Posso falar de coincidências?
Posso falar de coisas estranhas?
Até de fadas e princesas?
Posso?

Posso falar de projectos?
Posso falar de devaneios?

Ei! Ainda aí estás?
Posso fechar os olhos
E nada dizer?
Será que me ouves?
Será que no meu silencio
Me consegues compreender?
Será?

É que tenho sempre tanto para dizer...
E todos me conhecem às metades...
Ninguém me ouve na totalidade...
Nem mesmo eu...

Mas sabes...
De há uns tempos para cá
sinto-me bem... sinto-me calma...
E sabes porquê?
Porque sinto que Alguém me ouve...
Não sei quem, mas sinto que me ouve...
Porque sinto que Alguém me coloca a mão no ombro
e me mostra o meu caminho...
Porque sinto que Alguém me sorri, me obriga a levantar
quando estou prestes a descambar...
Sinto que Alguém me está a proteger...
É que eu não tenho caído... tenho flutuado...
És tu?



Imagem: Sweet Dreams by
KartK

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Telefonemas descafeinados

- Olá... Então como estás?
- Aqui vou eu na minha vidinha... o costume... e tu?
- Eu? Estou bem como sempre! E mesmo que não estivesse não te dizia...
- Estava a pensar num cafezinho... queres combinar?
- Sabes que por mim posso sempre, apenas com a condição de ser a seguir à minha princesa se deitar...
- Então que tal para a semana?
- Acho óptimo! Ligamo-nos na segunda-feira para combinar melhor, boa?
- Boa! Então vá... Até lá.
- Beijos e fica bem.

Na segunda-feira seguinte...
- Oi, estás boa?
- Vai-se andando e tu?
- Estou óptima! Então como é que é... sempre marcamos um cafézinho?
- Eh pá... esta semana afinal não dá... mais vale adiarmos uma semana... o que achas?
- Por mim tudo bem! Então ligas-me na próxima semana?
- Combinadíssimo!
- Ok então ficamos assim... Até segunda!
- Ciau até segunda!

Na noite de sexta-feira da semana seguinte...
- Oi, estás boa?
- Vai-se andando e tu?
- Estou óptima! Mas fisicamente estou de rastos... quero ir para a cama...
- Estou a ver... estás-te a cortar! Suponho então que não queres ir hoje beber um cafézinho!?
- Se me tivesses dito mais cedo se calhar mentalizava-me para a coisa e acabava por ir... agora é muito em cima...
- Bem estou a ver que não vale a pena... Ligo-te então na próxima semana para combinar...
- Acho delicioso... então ficamos assim... Até para a semana!
- ‘Tá... Adeus!

Dois meses depois...
- Olá... Então como estás?
- Aqui vou eu na minha vidinha... o costume... e tu?
- Eu? Estou bem como sempre! E mesmo que não estivesse não te dizia...
- Estava a pensar num cafezinho... queres combinar?
- Sabes que por mim posso sempre, apenas com a condição de ser a seguir à minha princesa se deitar...
- Então que tal para a semana?
- Acho óptimo! Ligamo-nos na segunda-feira para combinar melhor, boa?
- Boa! Então vá... Até lá.
- Beijos e fica bem.

Vidas desencontradas...
Por vezes dou por mim a pensar - Que raio de vida esta em que não arranjamos sequer um espaço para um cafézinho... -
O que vale é que estou sempre ÓPTIMA.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Bonequinha...

No cabelo põe-me ganchos
Podes até fazer-me tranças
Mas por favor nunca o cortes
Nunca me deixes careca

Podes pintar-me a cara toda
Podes desenhar sinais e sardas
Enganares-te e voltar a pintar
Desenhar e criar muitas caras

Podes vestir-me e despir-me
Deixares-me sem roupa se quiseres
É que sabes? Eu não tenho frio...
Vinha com roupa só para me quereres

No entanto...
há dias em que me esqueces...
Fico caída ao lado da cama,
enfiada debaixo da almofada,
abandonada numa cadeira,
ou até mesmo no meio de uma cesta
com outros tantos como eu...
Sabes? Todos eles reclamam!
Carros, legos, peluches... enfim...
Todos eles anseiam pela abertura da cesta
Todos eles anseiam por um carinho teu!

Faz de mim a tua Bonequinha...
Dá-me muito carinho
Faz-me muitas festinhas
Pois eu sirvo de consolo
Sempre que de mim precisas

Faz de mim a tua Bonequinha...
Leva-me para todo o lado
Enfia-me na tua mochila
E leva-me a passear...

Faz de mim a tua Bonequinha...
Quero adormecer ao teu lado
E no meio de um pesadelo
Ser a primeira a te consolar

Faz de mim a tua Bonequinha...
Mas nunca me desenhes uma lágrima...
Para isso deixa-me na cesta
bem no fundo, lá no fundinho
Porque do material de que sou feita
Apenas compreendo carinho

Imagem: Houndstooth and Checkers by
usamimi

domingo, 26 de novembro de 2006

Para ti...

Para ti “My friend from the bosom”

Por seres a minha melhor amiga, “my friend from the bosom” como quando víamos a “Ana dos Bosques Verdes”...
Por fazeres parte da minha vida há trinta anos...
Por estares presente e sempre tão presente em todos os momentos importantes da minha vida...
Por estares ao meu lado em tudo, mesmo naquilo que não concordas...
Por seres uma verdadeira amiga de coração...
Por fazeres da tua família a minha segunda família...
Por seres a irmã que nunca tive...
Por te entregares com uma amizade sempre inabalável...
Por seres tu...
Por seres tu escrevo-te
Brincámos juntas desde sempre... às bonecas, às escondidas, ao quarto escuro, andámos de bicicleta, fazíamos mini maratonas à volta do quarteirão com o equipamento de ginástica...
Fizemos clubes patetas...
Aos Domingos na missa tínhamos autênticos ataques de riso...
Passávamos horas à frente da televisão a ver programas que hoje acharíamos uma autêntica charopada!
Em periódo de aulas e como nos víamos menos, escrevíamos cartas uma à outra...
Cartas com folhinhas “queridas”... Tudo era “querido”... as folhas, as borrachas... tudo...
Víamos e voltávamos a ver filmes como o Dirty Dancing... Cenas gravadas de telenovelas... O Pantanal... A Juma e o Juventino a correrem um para o outro...
Ficávamos noites inteiras a conversar... sobre namorados, sobre tudo, sobre nada e ríamos, ríamos muito... ao longe ouvíamos “meninas fechem a luz!” e ainda nos ríamos mais...
Gostámos as duas dos mesmos dois rapazes... o que vale é que foram intercalados...
Foste viajar e durante muito tempo não estiveste cá... mas estiveste sempre comigo.
Somos muito diferentes, mesmo muito... excepto na educação, nos principios de vida, na tolerância e na nossa amizade. Talvez por isso a nossa ligação seja tão forte.
Sei que vais estar sempre comigo.
Eu vou estar sempre aqui para ti.

Para ti e porque te adoro um grande beijo de parabéns!

sábado, 25 de novembro de 2006

Princesa IV

Sempre que saímos, seja para ir ao jardim, para casa de amigos e familiares, ou para restaurantes, a fantástica mochila da pequena leva sempre livros. Não é preciso levar mais nada, apenas livros... De vez enquando, antes de sairmos de casa pergunta se pode levar um dos seus bonecos grandes, os seus bebés... mas acaba quase sempre por não os levar.

Hoje aconteceu algo invulgar... Hoje fomos a um restaurante ao qual não íamos há três meses. Hoje ao sairmos de casa, sem saber a que restaurante íamos, fez a mesma pergunta que fez há três meses... “Posso levar o Ruca?”. O Ruca foi o seu fiel companheiro na última ida a esse restaurante e desde aí não mais o levou para algum lugar. E hoje lembrou-se de o levar. E levou-o.

Foi o pai o primeiro a torcer o nariz, a dizer “que estranho...” e a aperceber-se da “coincidência”.
Foi ele que disse que só podia ser mesmo uma grande coincidência...
Não sei porquê... mas quando a palavra “coincidência” surgiu, eu sorri...



Imagem: por um anjo chamado Rita

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Ciclos


E o tempo corre...
Corre tanto
E corre tão rápido
Corre rápido e eu corro atrás...

Já fui só filha
Já fui só filha e a amiga
À filha e amiga acrescentei namorada
De namorada passei a mulher
À mulher acrescentei mãe...

Já fui só criança
Já fui só criança e amiga
À criança e amiga acrescentei estudante
De estudante passei a trabalhadora
À trabalhadora acrescentei vontade...

Já fui só ingénua
Já fui só ingénua e alegre
À alegre acrescentei sonhadora
De sonhadora passei a realista
À realista acrescentei optimista

De realista passei a sonhadora
De sonhadora a desiludida
De desiludida a realista

E mesmo vendo que o tempo passa
Passo de realista a sonhadora
Sempre que me permito

O realismo reânima-me, recupera-me
Ampara-me e dá-me forças
Faz-me ver o quanto necessito do sonho...
E por isso volto sempre a sonhar...
Estou sempre a recomeçar...

Imagem: New Cicle by
z4sit4

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Manias


Gosto de umas coisas mais que outras...
Coisas que devoro, coisas que detesto
Coisas que como com um enorme prazer
Coisas que me agoniam só de as ver

Mas aquelas coisas que como e gosto
Como não só por comer
Como não só pelo sabor
Como e deleito-me...
E por cada coisa que como tenho um processo

Chamem-lhe manias...
Mas é isso que me delicia!

E as manias são tantas!
Mania de comer e saborear cada bocadinho...
Mania de deixar para o fim a melhor parte...

Nem sei quantos processos de deleite tenho...
Maltesers, Ferrero Rochê, Bolas de Berlim, croissants com creme de ovo, Cornettos, Serenatas de Amor, salmão fumado, esparguete, diospiros, gomas, ovo estrelado... são tantos... e para todos eles tenho um cerimonial para os comer...

Se me cortam os bolos ao meio tiram-me o prazer...
Se o cornetto não tem chocolate no fim fico triste...
Se não há limão para o salmão fumado fico possessa...
Se me cortam o esparguete... ai!
Se me rebentam a gema do ovo, corto relacções por um dia!

São manias, eu sei...
As minhas manias...


Imagem: candy apples by
britzfitz

Encontros e Desencontros


Uma boca que sorri
Uma lingua que fere
Um olhar que aquece
Uma frieza que distancia

Uma música que alegra
Barulhos que ressoam
Uma cumplicidade intensa
Uma dessintonia que irrita

Uma confiança inquebrável
Uma desconfiança permanente
Uma segurança que acalma
Uma instabilidade presente

Uma alegria constante
Uma tristeza deprimente
Uma motivação imensa
Um desânimo tremendo

Todos os dias me encontro
Todos os dias me conheço
Todos os dias me desencontro
Todos os dias me desconheço


Imagem: Thumb print in paint by
on-the-wings-of-hope

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Surpresas

Descobri cedo que a surpresa e a curiosidade não andam de mãos dadas.
Sou curiosa por natureza, gosto de surpresas e raramente me surpreendem...
Tenho fome de surpresas... Mas a curiosidade largamente desenvolvida e experimentada tornou-me perspicaz... Não tenho orgulho nisso... não o procurei por querer... Aconteceu! Parece que tenho sempre as antenas ligadas... vejo, oiço, sinto e apercebo-me de algo estranho que se está a passar... Queria pura e simplesmente desligar mas não consigo... Absorvo muito do que me rodeia e eu própria sou absorvida por esse muito... dependo desse espaço...

Lembro-me de em pequena procurar o esconderijo dos presentes de Natal e de descobri-lo. Depois, quando ninguém me estava a controlar, voltei ao esconderijo e abri cuidadosamente os presentes sem estragar os embrulhos... fiquei eufórica! Fiquei eufórica sozinha... Depois algo em mim bateu... Voltei a embrulhar os presentes e a colocá-los no seu lugar. No dia de Natal já sabia tudo o que ía receber... Antes de os abrir, pensei nos meus pais e na tristeza que sentiriam por não verem os meus olhos a brilhar com tamanha surpresa. Pensei e tentei recordar-me exactamente da reacção que tive quando os abri pela primeira vez... Tinha de me mostrar surpreendida para os deixar felizes... Acho que consegui... Nos anos a seguir sempre me esforcei e controlei a minha enorme vontade de descoberta e surpresa... Consegui controlar-me razoavelmente...

Agora é a minha vez de fazer surpresas e sinto-me feliz por as fazer...
Adoro ver o ar de felicidade nos rostos de quem eu gosto...
Adoro criar surpresas, dedicar-me horas a fio, dia após dia a algo feito por mim, para alguém que me é especial...

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Menina linda


Olhos grandes
Redondos, redondinhos
Boca de folho
Lábios recortadinhos

Menina linda...
O que vês tu?

Cabelo castanho
Liso, muito lisinho
Nariz pequeno
Muito, muito pequenino

Menina linda...
Em que pensas tu?

Mãos papudas
Dedos compridos
Pernas roliças
Pés pequeninos

Menina linda
Com que sonhas tu?

Menina linda...
Conta-me...
Que anjo te mandou?
Que te disse ele?

Esse sorriso luminoso...
É porque o sentes?
É porque ele está em ti?
É que sabes...
Tu és um anjo para mim...

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Espirros


É isso mesmo...
Espirros...
Aquele momento ridículo...

Sai não sai...
É agora?
Parece que não...
Olho para o tecto...
Ainda não é desta...
Calmaria...
Ai é agora!
Franzo a testa
Fecho os olhos
Arrebito o nariz...
E foi-se!
Voltou a fugir...
Diacho!
Começo a falar...
E zás!
Atchiiiimmmm!

E antes que me consiga recompor...“Santinha!”
Sem tempo para um “Obrigada” em condições...

Alivio...
Alivio...
Mas com o corpo aos tropeções...
Sem vontade de fazer nada
Só quero a minha cama
Só quero a minha almofada


Imagem: pardon me a moment by
Mirlyn

domingo, 19 de novembro de 2006

Viagens...


Como as viagens mudam...
Antes ía sempre sentada no banco de trás do carro...
Entrava no carro e ao sentir o cheiro enjoativo dos estofos em pele desejava que a viagem fosse curta...
Encostava a cabeça ao vidro, passávamos a ponte e começava a ver os barcos que passeavam no rio... sabia que ainda faltava mais de uma hora de caminho...
Olhava para as nuvens e via tudo... animais, flores, carros, até pessoas... lembro-me de um dia ter reconhecido o perfil do meu tio Luís nas nuvens...
Assim que deixava de reconhecer figuras nas nuvens... começava a cantar...
Cantava tudo e mesmo as letras das músicas que não sabia, inventava...
Cansada de cantar... começava a olhar para as matrículas dos carros que passavam e pelas letras dava nomes aos seus passageiros...
A certa altura começava a ficar impaciente...
Ainda falta muito?
- Estamos quase a chegar a Águas de Moura, daqui a pouco vês a Cegonha – dizia a minha mãe.
E assim a ansiedade diminuia... Próximo intertenimento: A Cegonha...
E ao fim de algum tempo ali estava ela, no campanário de uma igreja do lado esquerdo da estrada...
Depois de Águas de Moura? Ainda Pegões, Vendas-Novas, Montemor...
Viagem interminável... De passagem nenhuma das terras me cativava...
Interessavam-me mais os campos lisos, todos amarelos, com uma árvore aqui e outra acolá... Uma anta! Olha mãe! Uma anta!... E por minutos a viagem parecia rápida... As vacas a pastarem também me distraíam... ficava feliz ao passar pela barragem e vê-la cheia... Imaginava-me a tomar grandes banhocas...
Passávamos por Santa Sofia, e de todas as vezes a minha mãe dizia – É ali que o Engenheiro Chaves está enterrado... – (um aparte... ainda hoje quando por lá passamos a minha mãe olha e sorri... porque pensa em dizer a frase de sempre, mas não a diz só para não ouvir “Sim mãe, já sabemos...”).
E por fim chegávamos! Saía do carro toda moída e ía brincar para casa dos meus avós. Estranho é pensar que a viagem de ida era sempre assim, mas da viagem de volta nem me lembro... Sempre tão rápida...
Hoje em menos de uma hora chego ao destino...
hoje sou eu que conduzo...
hoje pouco vejo...
Hoje pouco vivo a alegria e a ansiedade de uma longa viagem...


Imagem: tilde by
CubicSummer

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Portas recorrentes...

Subo num elevador, um elevador antigo e aberto, com portas de lagarta e chego àquele andar... fico no patamar...
O prédio é antigo e está descuidado... o patamar é em tons de amarelo e tem muita luz... como se não tivesse tecto...
Tenho uma porta ao fundo do patamar à direita, outra em frente e outra ao fundo do patamar à esquerda...
Entro pela porta da esquerda... é a minha casa.
De um momento para o outro todas as divisões estão mobilidadas... e parece que vivi lá toda uma vida... casa alegre, casa cheia... cheia de tudo... cheia de vida...
De todas as vezes que lá entro acontece-me sempre a mesma coisa... a descoberta de uma divisão, uma divisão que sempre lá esteve e que eu pura e simplesmente esqueci...
De todas as vezes penso porque é que nunca vivi nessa divisão tão grande... o seu espaço é maior que todo o resto da casa habitada...
Uma das diferenças? A forma como a descubro...
Numa das vezes estava na cozinha, que era antiga com móveis muito altos, e olhei para o canto esquerdo – Que porta tão grande! Ainda não a tinha visto... –; numa outra vez decido dar uma volta à casa e lembro-me que aquela pequena porta ao fim do corredor está fechada...
A outra diferença? O espaço...
Ao abrir a pequena porta ao fim do corredor entro num gigante quarto de crianças... numa das paredes janelas enormes que ocupam toda a altura da parede... nas outras paredes... armários profundos com a largura de um metro e todos eles coloridos... no resto do espaço? Bolas, trampolins, casas de bonecas, cordas para trepar, legos... muitos legos....
Ao abrir a grande porta da cozinha... encontro uma cozinha velha gigante, toda em pedra e com uma chaminé enorme...
Mas o fim da minha viagem é sempre igual, venha eu do gigante quarto de crianças ou da grande cozinha... uma parede toda envidraçada e embaciada... mais uma porta... uma estufa! Percorro a estufa a saltitar feliz de pedra em pedra e continuo a saltitar até que a estufa já não tem vidraças e é um céu aberto...

Acordo...
Sorrio...
Murmuro... Sonhei outra vez o meu sonho...


Imagem: the door to nowhere
vcrimson

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Orgulho

Pois é...
O português é complicado...
Uma palavra pode ter conotações tão distintas...
Hoje recebi uma mensagem de um amigo a dizer que sentia muito orgulho no seu mais recente rebento... e apercebi-me que o orgulho não é mau...
- Palavra que não entra no meu vocabulário – digo eu...
Pois parece que afinal ela existe, sempre esteve em mim e eu sempre a repudiei...
Orgulho de deixar de fazer o que sinto para não me rebaixar... Esse orgulho? Xô! Não quero nada com ele... não consigo ser feliz com um orgulho assim... a garganta parece ficar encravada...
Mas o outro orgulho... sim, aquele orgulho de olhar com admiração para as pessoas de quem gostamos, para algo quase perfeito que fazemos... esse orgulho enche-me...
A diferença de orgulhos? Ser ou Estar!
E sim... Estou muito orgulhosa de TI!

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Pirilampos


Que sorte Sentir!
Que sorte sentir coisas bonitas com tanta força!
Mesmo que as coisas menos bonitas doam mais...

Que sorte Amar!
Que sorte amar tanto e saber mostrar que amo!
Até mesmo àqueles que amo e que me magoam...

Que sorte Sorrir!
Que sorte sorrir com tanta vontade!
Até mesmo quando as lágrimas por vezes escorregam...

Que sorte Ver!
Que sorte ver tudo com tanta intensidade!
Mesmo quando há coisas que cegam demais...

Que sorte Viver!
Que sorte viver num turbilhão de emoções!
Sentir, Amar, sorrir, ver...

A todos os pirilampos que irradiam luz, que me guiam e que me fazem ver todos os dias a sorte que tenho... muitos pirilampos de luz desta lua que vos ama!

Imagem: The Princess In The Field by
Valhen

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Casinha de bonecas

Hoje estive a montar uma casinha de bonecas...
Hoje não era para escrever... porque estive a brincar...
Estive a brincar numa casa de bonecas mas ainda sem bonecas...
Voltei à meninice ao olhar para a casa montada...
Que linda que ela é!
E quando estiver recheada?
Recheada de móveis e de gente?
Mal posso esperar...

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Sou


Sou...
sorrisos e lágrimas...
alegria e tristeza
traquinas e séria
empenhada e desleixada
proactiva e inactiva
Sou de vicios e de novos vicios
Entusiasmo-me e desentusiasmo-me...
Apaixono-me e desapaixono-me
Sonho e desiludo-me
Sou ponderada e precipitada
Sou maluca, sou racional
Amo-me e detesto-me
Sou verdade, sou mentira
vaidosa e despretenciosa
diplomata e gafista...
palhaço pobre, palhaço rico
bailarina e futebolista
emoções e reacções
sensível e indiferente
Sou estável e instável
SOU EU e ESTOU...

Imagem: Freckles by nekokawai

Partidas...

Ei!
Apetecia-me fazer uma partida...
Shiuu!
Anda para aqui...
Para que ninguém nos possa ouvir...
Vamos pensar numa partida...
...
Esconder debaixo das mesas?
... já é banal...
Enfiarmo-nos num armário à espera que alguém abra a porta?
... também já fiz...
Trocar os fios dos teclados?
... uhm... funciona sempre...
Pendurar bolas no tecto?
... não me parece...
Fazer caricaturas do pessoal e colá-las na parede?
... Ainda lá estão as últimas que fiz...
Atar os atacadores?
... Dá muito nas vistas...
Fechar as luzes e escondermos-nos agachados ao pé do quadro?
...uhm... resulta sempre...
Colar o auscultador do telefone?
... Já não tem graça...
Por um rato na floreira e esperar que o jardineiro se assuste?
... Já lá está há três semanas e o jardineiro ainda não o viu...
...
Hoje fazes tu...
Hoje não tenho imaginação...
Mas Lua... o que vou fazer?
Não sei... Inventa!
...

Meia hora mais tarde alguém se assusta.... meia hora mais tarde alguém diz:
Ai!!! Lua foste tu!


Luinha


A minha pequenina lua é tua
Os meus sorrisos são todos teus
As minhas alegrias vêm de ti
O teu sorriso é a minha alegria

A minha grande LUA és tu, sabias?


Imagem: skywalker

domingo, 12 de novembro de 2006

Velhice


Antigamente visto como ancião, como aquele que tudo sabe, como o melhor conselheiro, como o pai de todos, hoje o velho caíu no esquecimento...
Não falo daquele velho a jogar dominó em bancos de jardim, não falo desse... falo de todos os velhos que caiem no esquecimento do mundo... e que ficam sós...
Daqueles velhos que deram uma vida inteira pela família e que são abandonados, daqueles velhos que tiveram a infelicidade de ver morrer os filhos e ficaram sós, daqueles velhos que nunca conseguiram ou não quiseram constituir família e sempre viveram sós... Falo destes velhos e penso em nós os mais novos... Nós que não conseguimos ver para além do nosso tempo, que achamos que temos sempre razão, que a opinião de um velho não conta... “Está esclerosado” dizem alguns... “Já não diz coisa com coisa” dizem outros... Vejo a forma como são tratados, a falta de respeito que impera, como se fosse uma forma de afirmação... Não sou velha, mas sinto a velhice de perto. Graças a Deus sei que muitos também a sentem e que percebem a minha preocupação... Mas sei que somos uma minoria... Não será demasiado para uma pessoa aperceber-se da perda das suas capacidades, sentir-se dependente de alguém para continuar a viver, sentir o “será hoje que vou?”.... Não será isto já tão forte? Para quê o abandono, o isolamento, o desrespeito? Sei que a vida que hoje levamos não nos deixa muito espaço para cultivar o amor pelos avós, ou pelos pais, no caso dos nossos pais... sei que muitos não têm outra possibilidade que não seja um lar. Não recrimino, são vidas diferentes e muitas das vezes dificeis... mas o abandono, o desrespeito... não compreendo... e entristece-me demais.
O meu pai é velhinho, tem oitenta e seis anos, e é o meu ancião. Ele é daqueles que tem sorte por ter a família toda à volta dele... mas mesmo assim não se sente feliz porque sente que com a diminuição das suas capacidades é um entrave para todos de quem gosta...
Um dia, tinha eu oito anos, o meu pai teria sessenta e três, íamos a passear na rua de mão dada, quando tivemos de passar pelo meio de um grupo de jovens que estava a brincar com pedras. Ao passarmos pararam de atirar, até que uma rapariga gritou “Atirem pedras ao velho!!!”. Acho que foi a primeira vez que me lembro de sentir raiva! Parei, com lágrimas nos olhos ía virar-me para trás, mas o meu pai apertou-me a mão com força e disse-me baixinho “Sorri, anda em frente e não olhes para trás”... Mais tarde perguntei-lhe porque não me deixou virar... Sorriu na mesma e disse-me “de que te ía adiantar?”. Nunca me esqueci.
Uns anos mais tarde, teria o meu pai setenta e oito anos, vinha do escritório para casa todo elegantemente vestido, aliás como sempre, e caíu das escadas do metropolitano abaixo... uma enfiada de dez degraus.... caíu e estatelou-se no cais da estação... ninguém o ajudou... só depois de todos terem passado e de o cais ter ficado vazio é que o motorista de segurança do comboio (aquele que fica na cabine de trás) se apercebeu e o foi ajudar... o comboio não andou enquanto o meu pai não teve devida assistência... e não andou porque só o motorista se dignou a ajudar... Quando o meu pai chegou a casa todo negro e contou o que se tinha passado a chorar... chorei também... chorei pela indiferença para com o meu pai... chorei pela indiferença pelos velhos.

Ponho as mãos à cabeça e vejo que à medida que o tempo passa tudo está pior...
Pergunto-me se há qualquer coisa que eu possa fazer para mudar esta desevolução...


Meu pequeno tesouro


Em várias fases da minha vida e principalmente em altura de catástrofes naturais ou praticadas pelo Homem, dei por mim em pensar que bens materiais levaria comigo se tivesse de fugir de casa a correr...

Até há uns anos atrás e quando ainda estava a viver em casa dos meus pais não tinha qualquer dúvida... pegava no cofre feito pelo padrinho da minha mãe. Não por ser engraçado, não por ser velho, não por ter significado, mas apenas pelo facto de ser grande e conter todas as cartas que recebi, cartas que nunca cheguei a enviar, fotografias, muitas fotografias... o meu tesouro. Não levaria roupa, joias, walkman’s... não levaria nada... apenas o cofre.

Saí de casa dos meus pais e as coisas a levar passaram a ser diferentes... Levava garantidamente o telemovel para poder saber dos meus pais, levava os meus documentos, levava o único livro que escrevi... e não levava mais nada... o cofre, o meu tesouro, está em casa dos meus pais...

Desde que a minha pequena princesa apareceu os bens a levar voltaram a mudar...
Continuaria a levar o telemovel para saber dos meus pais, levava um agasalho, água e uma ou outra embalagem de comida para que a pequena princesa não passasse por privações imediatas... E o cofre? Já não interessa... Já não tem qualquer significado...

Imagem: Fairy's Little Treasure Box by
MysticBlayde

sábado, 11 de novembro de 2006

Chuva


Acabei de descobrir Mariza (sim... só agora...) e estou maravilhada…

“As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade”

Letra: Jorge Fernando
Cantado por: Mariza
Imagem: Where Rain Grows by x-horizon

Princesa III


Hoje a minha princesa voltou a dizer “O pai tem 'pininha', a mãe pipi”.
Perguntei-lhe quem tinha o quê e ela respondeu que os avôs tinham pipi.
Expliquei que os avôs eram meninos logo tinham pilinha.
Pareceu-me que o assunto por hora tinha ficado esclarecido...
Mais tarde quando íamos a sair, perguntou se íamos no carro do pai. Disse-lhe que não, que íamos no carro da mãe por ser mais pequenino... ao que ela concluiu com a pergunta “carro de meninas?”.


Imagem: Little Heroes by alesyira

O meu pequeno quarto


Tenho um quarto crescente visto de cima
Tenho um quarto decrescente visto debaixo
Luminosidade do decrescente?
Igual à do crescente... Trinta e quatro

Para quem me vê de frente é sempre decrescente
Para quem está ao meu lado é sempre crescente

Tenho um quarto de lua marcado
E seja qual for a forma como o vêem
O meu pequeno quarto é sempre cheio para mim


Serpent Knight Project: BG 01
maina

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Lua chorona

Só me apetece dizer Caramba!
Caramba porque é que és assim Lua?
Porque choras?
Porque cais?
O que te fere?
O que te doi?
Porque confundes?
Porque não tentas ver?
Porque é que és assim?
Gostas de sofrer?

Caramba lua...
Em vez de redondinha e branca
Em vez de uma calma reconfortante
Pareces um grande novelo de lã!

Caramba lua!
Acorda e vê!
Não vês o bonito que tens?
Não vês?
Abre os olhos e vê!
Não chores,
Não podes!

Caramba lua...
Choras e não sabes porque choras...
Ficas triste e não sabes porquê...

Caramba lua!
Sorri!
Não é o que estás sempre a dizer?
Não é o que gostas de fazer?

Caramba lua...
Sorri...
Sorri para tudo
Sorri para todos
E não chores...
Não chores...

Chorei...



Hoje a tristeza abateu-se sobre mim e pisou-me...
Hoje chorei por desalento, desilusão... por tristeza...
Hoje chorei por tudo
Hoje chorei por nada...
Hoje chorei pelo que não faz sentido
Hoje chorei pelo que não tenho chorado
Hoje a tristeza abateu-se sobre mim e magoou-me

Imagem: tears from the moon
Liek

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Mãe Coragem


Mãe,

Não sei quantas vezes pensei em escrever-te... muitas... mas as palavras nunca surgiam como eu sentia...

Sinto que te magoei por ter uma especial predilecção pelo pai... É, e era, o pai isto, o pai aquilo, o pai diz, o pai fez... Tu sabes que sempre o admirei, tive sempre muito medo que ele partisse... pela ordem natural das coisas será assim... e por isso, talvez por isso, sempre me dediquei e manifestei muito mais afecto por ele...

A tua presença sempre presente nunca me levou a pensar que um dia me deixasses, nunca me levou a pensar que sofresses...
Mas sei que sofres...
Sei que sofres por não viveres aquilo que desejavas...
sei que sofres por te sentires presa...
Penso que sofres por achares que gosto menos de ti do que do pai...
Não é verdade!
Em actos até poderias tirar essa conclusão...
mas em AMOR não...

Sempre admirei o pai pela sua postura em relacção à vida e aos outros, sempre o admirei pelas palavras sempre TÃO certas...
Admiro-te a ti MÃE pela tua coragem, pelo teu amor inabalável por todos nós, pela tua inocência tão maior que a minha mesmo quando eu era pequena...
Admiro-te tanto...
até pelas gaffes deliciosas e naïfs que tens...
pelo teu sorriso de menina...
Adoro ver a tua felicidade quando estás rodeada pelos tios ou pelos teus amigos de sempre...
Agradeço a avó amorosa e dedicada que és...
Agradeço a mãe fantástica que tenho.

Preocupo-me quando te vejo a andar de um lado para o outro sem parares, sempre a arranjar qualquer coisa para fazer, como se fosse o último dia da tua vida.... Preocupa-me o teu excesso de organização e a forma como és meticulosa com as tuas coisas e as dos outros... terás tempo para pensar? Ou é isso que queres evitar?

Preocupo-me porque tenho receio que um dia me faltes...
Só equacionei faltares-me há uns meses quando o pai estava no hospital...
Quando me disseste com uma lágrima a escorrer-te pelo rosto e com os lábios a tremerem “O pai está com uma pneumonia... ele disse-me que era o fim...”
Fui buscar forças aonde não as tinha só para te ajudar a levantar e para não te ver chorar... Não consigo ver-te a chorar...
assim não...
apercebi-me que sofres...
e doeu-me tanto...
não me podes faltar...
não concebo a minha vida sem ti....

AMO-TE muito MÃE


Imagem: A Mother's Gift by
ruriko

Se por um instante...

“Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas certamente, pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.

Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem.
Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestir-me-ia com simplicidade, deitar-me-ia de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas o meu corpo, como minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse.

Pintaria, com um sonho de An Godo, sobre estrelas, um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua.

Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes: amo-vos, amo-vos. Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.

Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensarem que deixam de apaixonar-se quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de apaixonar-se.

A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...

Aprendi que toda a gente quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.

Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o torna prisioneiro para sempre.

Aprendi que um homem só tem direito de olhar um outro de cima para baixo para ajuda-lo a levantar-se.

São tantas coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente, não poderão servir muito porque quando me olharem dessa maleta, infelizmente estarei morrendo” (...)
Gabriel Garcia Marquez

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Permitam-me...


Permitam-me que salte
Permitam-me que grite
Permitam-me que abrace
Permitam-me que beije
Permitam-me que chore
Permitam-me que ria

Permitam-me tudo sem qualquer julgamento, exclusão ou recriminação...
Fere-me demais a não aprovação
Permitam-me por favor...
a não aprovação inibe a minha loucura


Imagem: Betania's Got Springs by
benihana03

Window In The Skies



“The shackles are undone
The bullet's quit the gun
The heat that's in the sun
Will keep us when it's done
The rule has been disproved
The stone, it has been moved
The grain is now a grove
All debts are removed

Oh, can't you see what love has done
Oh, can't you see what love has done
Oh, can't you see what love has done
What it's doing to me

Love makes strange enemies
Makes love where love may please
Soul in its striptease
Hate brought to its knees
The sky over our head
We can reach it from our bed
If you let me in your heart
And out of my head

Oh, can't you see what love has done
Oh, can't you see what love has done
Oh, can't you see what love has done
What it's doing to me

Please don't ever let me out of here
I've got no shame

Oh, can't you see what love has done
Oh, can't you see
Oh, can't you see what love has done
What it's doing to me

Oh, can't you see what love has done
I know I hurt you and I made you cry
Oh, can't you see what love has done
Did everything but murder you and I
Oh, can't you see what love has done
But love left a window in the skies
Oh, can't you see what love has done
And to love I raphsodize

Oh, can't you see what love has done
To every broken heart
Oh, can't you see what love has done
For every heart that cries
Oh, can't you see what love has done
Love left a window in the skies
Oh, can't you see what love has done
And to love I raphsodize

Oh, can't you see”


U2 em U218 Singles

Imagem: window by cyberci

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Criança


Sinto-me uma criança ultimamente. Não sei explicar, mas sinto-me uma criança.

Sinto-me criança ao ler os livros que leio... Em pequena nem me lembro de tocar em livros de fadas, princesas. Não me lembro de devorar livros infantis. Agora ao ler em voz alta os livros da minha princesa sinto que os leio como se fosse para mim.

Sinto-me uma criança ao cantar músicas infantis. Impressionante a capacidade que temos para armazenar tantas músicas na nossa memória... consigo estimar umas quarenta e tal músicas infantis memorizadas na minha cabeça e outras tantas coreografias para as acompanhar.

Sinto-me criança ao desenhar... Desenho casas, flores, bonecos em segundos... Gosto de pintar.

Sinto-me uma criança das poucas vezes que brinco com legos e jogos de encaixar...

Sinto-me uma autêntica criança no parque infantil... A princesa é pretexto para experimentar quase tudo, desde escorregas, baloiços, casinhas de madeira e o mais divertido... a barra de cambalhotas e sobe-e-desce. Há pouco tempo estive junto de uma casa na árvore... o que eu mais queria era ir lá para cima...

Sinto-me uma criança nas brincadeiras, nas palavras, nas travessuras [sorrio]

Sinto-me uma criança ao olhar para o mundo. Ultimamente parece que tenho tantos adultos-crianças à minha volta... não pela maneira de agir... não pela maneira de pensar... apenas pela forma de sentir.

Sinto-me uma criança e sinto-me feliz.

Imagem: Tree House by
squicks

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Princesa II


Sou eternamente apaixonada pela minha princesa...
Todos os dias me apaixono mais pelo seu sorriso, pelos seus olhos a sorrirem e a brilharem... pelo seu enroscar no meu colo... até pelo choro de miminho...
Amanhã sei que a vou amar mais que hoje...

Todos os dias me faz sorrir...

Chegar a casa do trabalho é a melhor altura do dia. Toco à porta e oiço ao longe “É a mãe!!!!!! Mãe!!!!”. Aproxima-se da porta “Quem é?” – É a mãe – digo eu , e abrindo a porta me abraça com um abracinho apertado, um beijinho ternurento e tanta alegria...

Já há algum tempo que quando lhe dizemos que a adoramos nos responde “Doro-te Mãe”, “Doro-te Pai” ao mesmo tempo que coloca a mão em cima do seu coração...

Hoje ao brincar com um boneco fez-lhe festinhas, deu-lhe um beijinho doce, e sorrindo disse-lhe “Doro-te bébé” e colocou a mãozinha em cima do peito fofo do boneco.

Durante o jantar e depois de eu lhe ter acabado de ler uma estória da Anita, agarrou no livro e começou a contar a mesma estória ao cão de peluxe que estava em cima da mesa...


Imagem: Ilustração feita por um anjo chamado
Rita

Amigos são anjos

"Friends are the angels who lift us to our feet, when our wings have trouble remembering how to fly... "

A todos os anjos que encontro, a todos os anjos que me fazem sorrir, a todos os anjos que me fazem ver o dia perfeito, a todos os anjos que se aproximam, a todos os anjos que me fazem abrir a porta da minha redoma e que trazem com eles amor, sorrisos, sentimentos e alegria... a todos eles... obrigada por se aproximarem, obrigada por entrarem, obrigada por estarem, obrigada por existirem. Com vocês entro, com vocês estou, com vocês existo. Com vocês e por vocês sorrio...

Imagem: To Good Friends- 1000 Hits :D by
Inuyashafreak337

Espectáculo


"Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti

eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede

não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar

Quando
tu me vires no music-hall
estarei no palco
cabeça ao sol
ao sol da noite das luzes
à espera dum outro sol
e que os teus olhos os uses
como quem usa um farol

não me olhes só dessa frisa lateral
desce pela cortina e acompanha-me em cena
vamos dar à perna como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos bailar

Quando
tu me vires na televisão
estarei no écran
pés assentes no chão
a fazer publicidade
mas desta vez da verdade
mas desta vez da alegria
de duas mãos agarradas
mão a mão no dia a dia

não me olhes só desse maple estofado
desce pela antena e vem comigo ao programa
vem falar à gente como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos cantar

E quando
à minha casa fores dar
vem devagar
e apaga-me a luz
que a luz desta outra ribalta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta"


Letra e música: Sérgio Godinho
Imagem: anaral stock 11 by
anaral

domingo, 5 de novembro de 2006

Coreografias


Adoro fazer coreografias na minha cabeça
Adoro ouvir música e imaginar que danço
Que danço para uma plateia cheia de gente
Que danço, danço apenas danço

Vibro com a adrenalina na apoteose musical
Torno essa apoteose numa loucura de movimentos
Faço rewind musical
E danço mentalmente por mais uns momentos

Danço hip-hop, raggae e salsa
Danço em patins e faço piroetas
Danço sevilhanas, merengue e tango
Faço inclusivé danças mais lentas
Do ballet à dança moderna
Da dança do ventre às danças tribais
Can-can, sapateado, swing ou rumba
Riverdance e outras que tais

Desço pelas coxias em curva
Sempre a uma velocidade estonteante
Danço, salto, sobrevoo o palco
Rodopio e termino com um mortal alucinante...

Em todas estas coreografias não há espaço para encores
Não há espaço para aplausos, rosas ou vaias
Em todas estas coreografias só há música, ritmos e cor
Adrenalina, calor e ALEGRIAS

Imagem: Leap-s- by JBB-STOCK

Quando me perco


Quando me perco
busco um abrigo
ou um tecto que não tolha os meus sentidos
E se o teu céu, por ser maior,
cobrir o pranto?
eu vou!

Quando me perco
sigo uma estrela
que não brilha igual
em todo o firmamento.
E se cair para lá das ilhas encantadas?
eu vou!

Se o teu nome não fosse
o do pecado,
ou da benção que o céu
hoje me deu,
nem por montes,
nem por mares
onde o sol nunca nasceu,
perderia o rasto
de um sorriso teu!

Quando me perco
sigo uma voz
que me chama bem do fundo
das certezas.
Mesmo que chegue
como um canto de sereia?
eu vou !

Quando me perco
ou se me encontro,
ou se me der para ser banal
tal como agora,
tudo não passa
da vontade de dizer?
eu estou !

Letra: Luís Represas
Imagem: Follow That Star . by
WickedNox

Reticências

Agora dei por mim a pensar porque é que em quase todas as frases que escrevo acabam com reticências...
Será tique de escrita ou será apenas por ficar sempre tanto por dizer?

Dia e Noite


Todos os dias, durante o dia, penso no que gostava de aqui escrever...
Todos os dias penso em tanta coisa... tanta coisa que poderia escrever...
Todas as noites sento-me aqui...
Todas as noites penso no que pensei durante o dia...
Todas as noites escrevo sobre tudo menos aquilo em que pensei escrever durante o dia...
Todas as noites tudo sai diferente...

Imagem: Night Born Out of Day by lipi

sábado, 4 de novembro de 2006

Bola de neve


Por vezes apetecia-me que o mundo fosse como aquelas bolas de neve feitas de vidro e com uma casinha lá dentro...
Apetecia-me agitá-lo, abaná-lo... para que tudo o que é bonito e perfeito viesse ao de cima para que todos pudessemos ver... e pairasse pelo ar lentamente para que todos pudessemos admirar... e quando tudo o que é belo poisasse todos nós lhe dar-mos o devido valor...
Por vezes apetecia-me fazer o mesmo com a minha vida... Agitá-la e abaná-la... valorizar apenas o que é perfeito e ver tudo a harmonizar ao poisar... e tudo encontrar...

Imagem: Kay caged by
Basia-AlmostTheBrave

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Viver mais um bocadinho


Já há algum tempo vi um programa na BBC sobre a percepção que as crianças têm em relação à morte. Explicaram que as crianças por volta dos três anos conseguiam mencionar a palavra morte, mas só aos sete conseguiam entender o que ela realmente significava... Colocaram dois miudos de três e quatro anos a passear numa mata e filmaram a descoberta deles... Um coelhinho morto. Os miúdos observaram e comentaram “He’s dead...” para terminarem com “Wake up little bunny”. A segunda filmagem mostrava o mesmo cenário com crianças de sete e oito anos, que ao encontrarem o coelhinho lamentaram o facto de estar morto e o nada se poder fazer...


Lidar com a morte...

Contam-me os meus pais que com apenas dois anos me desmanchei a chorar em pleno almoço de Domingo ao perguntar-lhes “Se vocês morrerem para quem é que fica a casa e o carro?”. Cada vez que me lembro desta frase nem sei em que pensar...

Desde pequena que lido com a possível e próxima morte do meu pai... Pura e simplesmente por ele ser muito mais velho que a grande maioria dos pais...

Por volta dos oito anos tive uma das sensações mais estranhas da minha vida... Sentada na minha cama, o quarto vazio, senti o escuro, o preto, o nada, um vazio, o vacuum... Num sobressalto e abanando a cabeça deixei de o sentir... e pensei... “A morte deve ser assim”... Desde esse momento passei a ter muito medo...

Durante muitos anos senti-me assim... Havia alturas, graças a Deus não muitas, em que chorava só de pensar que poderia perder os meus pais... chorava por pensar que também eu os poderia deixar...

Fui mãe... o medo aumentou.... ver os noticiários é um martírio... estranho mundo este filha...
Fui mãe... comecei a ficar com leves sinais de hipocondríaca... Não lhe posso faltar, não posso falhar...

Este ano... este ano foi complicado... senti mesmo de perto a possível partida do meu pai... fui muito forte enquanto pude e depois caí... Demorei algum tempo a levantar-me, mas com esse tempo aprendi a aproveitar mais a vida e tudo o que ela me dá... Aprendi a gozar melhor dia de hoje e não esperar o de amanhã... A viver um dia após o outro...

Hoje... ou melhor... há umas semanas atrás apercebi-me que esse medo, que existe, é muito menor... sinto que vivo...
Agora ao invés do enorme medo tenho esperança de viver sempre mais um bocadinho... para ver a minha filha a crescer, para viver sonhos, para fazer o ainda tanto que gostava de fazer...
Por isso... todos os dias agradeço, todos os dias sorrio...

The Sky So Big by
ArtistGjurich

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Acordar no dia seguinte

“Ainda há quem acredite em alguma coisa mais do que em acordar no dia seguinte...?”

Acredito...
Acredito porque todos os dias me esforço para ver que há coisas que não estão mal...
Acredito porque tenho tido sorte...
Acredito porque tenho de acreditar...

Acredito muito mais no hoje, no agora, do que acordar no dia seguinte...