sábado, 30 de janeiro de 2010

Fofinha

(para leres quando fores mais crescida)

E é hoje...
Se soubesses como o meu coração aperta agora enquanto te escrevo...
Se soubesses como o coração e a minha cabeça têm estado nos últimos tempos...
Se soubesses como um gigante ponto de interrogação me têm preenchido em todas as últimas noites...
Tudo por ti, por ti apenas, porque tudo o que quero é amar-te, proteger-te, ajudar-te a aprender a viver nesta vida, acompanhar-te e nunca magoar-te. A dúvida que tenho da tua reacção à separação da mami e do papi assusta-me. Sei que no fundo és forte, sei que és doce, sei que és boazinha, sei que és compreensiva e adoro ver-te feliz. Mas sei que vais ficar triste...

Mas não fiques...

Sabes porquê? Porque o nosso amor por ti nunca diminuirá, nunca mudará. Porque a mami e o papi vão estar sempre para ti como estiveram até agora. Porque o céu e a terra quiseram que o papi e a mami se juntassem para darem mais um presente ao mundo, tu. E mesmo que a mãe e o pai continuem com a sua vida, em diferentes caminhos, num caminho havemos de estar sempre juntos, porque somos muito amigos, porque te adoramos, porque queremos o melhor para ti e porque estaremos sempre a teu lado.

Com esta nossa decisão queremos ensinar-te dando-nos como exemplo do que é lutar. Lutar pelo nosso amor próprio, pelo nosso amor pelos outros, lutar pela felicidade, sempre com respeito pelos outros.
E chegou o dia do papi e da mami seguirem esse caminho.
E daqui a umas horas vamos falar contigo.

Agora peço ao teu avô Manuel, que está lá no céu, mas sempre comigo, que me dê força e me ajude a dizer-te as palavras certas, para que consigas compreender que esta decisão é boa para nós os três e que não é de todo um fim, não é triste, é apenas a mudança de hábitos e rotinas, com um único e importantissimo objectivo, de sermos os três ainda mais felizes.

Adoro-te meu amor, minha fofinha, és o maior presente que esta vida me deu e nunca te esqueças, estarei SEMPRE contigo e sei que, do fundo do coração, estas palavras que agora te digo, também são do teu papi para ti.

Tenho muito orgulho em ti!

Um grande beijo da tua Mãe

sábado, 16 de janeiro de 2010

Voltei!

Estas semanas têm sido, digamos que, cheias...
Cheia de tudo! Cheias de intensidade, cheias de emoção, cheias de receios, cheias de fé. Uma confusão.

Ontem tirei o dia!
Pedi a quem se encontra a ajudar-me exaustivamente, espaço. Pedi...
PRECISO de assentar arraiais. Preciso de fazer o meu luto, parar, sentar, vegetar, dormir, tomar banhos longos, cuidar do meu corpo, vestir um pijama novo, ler e escrever. PRECISO de parar e não pensar. Dificil...
Têm sido tantas as coisas e pensamentos surreais que me têm passado pela cabeça. A falta de fé em mim, a falta de vontade em executar, deitaram-me verdadeiramente a baixo e toda aquela confiança constante que me acompanhou a bem ou mal no último ano e meio fez... puff!

Às vezes é preciso encontrar alguém que gostamos e admiramos com o mesmo estado de espírito que nós para arranjarmos força.

Tive uma quinta-feira estranha depois de uma quarta-feira brutalmente cinzenta. Uma quinta-feira que começou apenas como mais um dia e que de um momento para o outro mudou. A levar uma manhã calma após deixar a princesa no colégio. Café da manhã com um ou dois amigos, levantar uma encomenda, tudo pacato, como deveria, mas com um desolamento triste da memória e recém chegada menos boa experiência do dia anterior, triste e assustador. Entro no carro, céu cinzento, ligo o rádio e toca Tokio Hotel. Deixei ficar a música, afinal de contas, alguém um dia dedicou-me o titulo daquela música no MSN, e essa lembrança fez-me sentir diferente, melhor, relembrou-me que não sou uma ninharia. The Sun will Shine for you. E o céu abriu, as nuvens dissiparam, o sol brilhou e o telefone tocou. Agendamento para dentro de uma hora para a visita de uma casa que havia gostado no site de imobiliário. Liguei à minha mãe. Estava na missa por alma do meu pai e pela primeira vez tinha-se esquecido do telemovel ligado. Fomos ver a casa e ao contrário das casas do dia anterior que me tinham deixado completamente deprimida esta inundou-me de luz e fez-me ver que afinal podem existir hipoteses de ser feliz num outro sitio que esta actual casa. E o dia continuou luminoso, o sol continuou a brilhar e o telefone, nessa tarde, com tantas outras coisas novas para fazer, não parou de tocar. Mostrar a casa... No meio disto tudo também tenho de mostrar a minha actual casa, para a vender. Pronto! Foi mais um Puff! O nada de definitivo de casa para ir, e o nada de definitivo de conclusão, fecho de venda da casa, deixou-me no meio, no vácuo e mais uma vez triste e a gritar por dentro "Dêem-me espaço!!! Dá-te espaço!!!".

E foi assim, em que numa sexta-feira, parei e disse-me, hoje não marco, nem faço nada! E até nisso o telefone me ajudou. Não tocou. E o dia foi todo manhã, morning... Não saí. Só saí às cinco da tarde para ir buscar a pequenina. E a calma até aí foi pertinente, o problema foi ter saído quando o dia já começava a escurecer, deprimindo-me e assustando-me todo aquele céu nebulado, cinzento, triste.

E mais uma vez as preocupações surgiram, não as logísticas, mas as de fé nos seres em que quero e preciso ter perto e que não são certos. Devia pensar e assimilar que só posso contar comigo, mas a vida assim, como a conheço não faz sentido. Sou dependente do sorriso e da presença da minha filha. Sou dependente da presença da minha mãe. O meu pai, sei que está sempre comigo. E os outros? Aqueles que fazem parte de mim, aqueles poucos mas bons amigos, que considero complemento da minha alma, que fazem com que tudo pareça perfeito na comunhão perfeita da nossa essência? Esses, sim... Vão estar se eu precisar? Vão-me abraçar quando me apetecer chorar? E a dúvida assolou-me. E essa dúvida fez a perfeita divisão entre aqueles que são mesmo meus amigos e aqueles que partilham ou partilharam comigo apenas alguns troços do mesmo caminho. Apenas a um liguei e perguntei. E liguei por ser uma das almas que me acompanha e mais adoro, e por insegurança precisei de ouvir "Sim, podes contar comigo". Acalmei... E minutos depois, abracei a minha filha. Perfeita uma hora de sentimentos.

Chegar a casa para depois, arranjar-me para jantar com amigas, coisa que não fazia há mais de duas semanas. Confesso, não me apetecia sair de casa. Queria ficar no choco com a minha mais-que-tudo enroladas no sofá debaixo do cobertor, como frequentemente fazemos. Mas por ser uma amiga que não via há mais de um ano, arranjei coragem e fui. Para além de que ela também se encontra numa fase de vida muito semelhante à minha. A separar-se. A frase "Também a ti te dizem que vai tudo correr bem, que tu és forte e cedo vais endireitar a tua vida?", foi a que atenuou tudo. Não sou a única. E se acredito que ela se vai endireitar, mesmo sem filhos, também eu consigo. Muito embora, tanto eu como ela, nos sintamos desencantadas com o nosso actual estado de espirito. São tudo fases, tudo irá mudar, é apenas questão de me habituar. E acima de tudo e de uma vez por todas, deixar de ser mimada e aprender a lutar.

Pensava eu que era uma lutadora... Agora é que o tenho de mostrar...
A mim própria.

Vamos a isso!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

E hoje?

Hoje sinto que tudo se resolve e que o cérebro e noites mal dormidas nos pregam grandes partidas, desviando-nos do nosso eu e tornando-nos animalescos, medrosos e egocêntricos.
Sim hoje dormi e não tremi.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A intuição tem razão

Esta primeira semana de 2010 tem sido uma semana de alivio misturada com tremenda emoção.
Alivio por sentir que soltei tudo o que prendi até ao final do ano de 2009.
Pressenti e descobri que afinal de contas soltei tudo mesmo e que me deveria ter preocupado menos com os outros. Os meus prognósticos confirmaram-se mais cedo do que o previsto. E sinto-me feliz por isso. Mas no meio dessa felicidade impressionantemente antecipada aos tempos por mim previstos, surgem os meus receios e a minha auto-estima de repente dá um catapum.

Gostava de poder dizer que não tenho medo de ficar solteira para o resto da vida. Hoje não consigo.
Gostava de conseguir hoje acreditar que existe algures no mundo um homem que me vai amar, mimar na mesma proporção que eu a ele. Hoje não consigo.
Gostava de conseguir não pensar nisso e apenas pensar que o que tiver de acontecer acontecerá e não me melindrar minimamente com isso. Hoje não consigo.

Hoje sinto-me substituível.
Hoje sinto que não sou amada por nenhum homem.
Hoje sinto que nunca ninguem me vai querer.
Hoje sinto-me uma qualquer.
Hoje sinto-me não especial.
Hoje sinto-me esquisita e sem vontade de nada fazer.

Tremo, ainda não parei de tremer.
Mas nesta misturada de sensações consigo sentir-me feliz por quem quero bem.
Confuso e assustador.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A carta

Na noite de 26 de Dezembro no bar mais cool em Évora, um bar marroquino grande mas aconchegante, com várias salinhas, em conversa com o meu primo lembrámo-nos de uma carta que o nosso avô deixou escondida no seu cofre para que os seus filhos a pudessem ler após a sua morte. Soubemos da sua existência num almoço de família em Évora em finais de Março de 2006, quando por altura da celebração do centenário dos meus avós (se estes fossem vivos), uma nossa tia se levantou e a começou a ler. Uma outra prima que estava connosco no mesmo bar não se lembrava nem do momento, nem da existência da carta. Lembro-me que quando a ouvi pela primeira vez, me tocou bem fundo. Mas aquelas quase dez páginas manuscritas em algo, naquele momento, me fizeram sentir mal comigo, por conta do momento e fase em que na altura me encontrava.

Voltámos para Lisboa depois das festas natalícias, lembrei-me uma ou outra vez da existência da tal carta, mas sempre que estava com a minha mãe esquecia-me na totalidade de lhe comentar a conversa com os meus primos no dia a seguir ao Natal e de lhe perguntar se teria uma cópia da carta para a reler.

No dia 31 de Dezembro fomos almoçar com a minha mãe no restaurante onde quando o meu pai estava vivo e de saúde íamos almoçar quase todos os dias.

A passagem de ano foi passada calmamente em casa de amigos, em Lisboa e a da minha mãe com todos os irmãos e alguns sobrinhos em casa de uma irmã.

No primeiro dia do ano fomos almoçar com o avô paterno da minha filha, e ao telefone com a minha mãe senti-a triste.

A minha princesa foi brincar para a casa da sua vizinha e amiga Rita, e eu agarrei em mim à hora do lanche e fui a casa da minha mãe. Quando lá cheguei a casa parece que se iluminou, a sua tristeza desvaneceu-se e abraçou-me. Disse-me que lhe fazia confusão estar o primeiro dia do ano sem mim. Que se sentia sozinha, que agora só me tinha a mim e à pequenina. Respondi-lhe que não era verdade. Que ela ao contrário tinha irmãos que se adoram. Eu não tenho nenhum. Eu sim poderia utilizar as suas palavras de só a ter a ela e à minha pequenina, mas não as utilizo. Os meus amigos, aqueles, com que sei sempre contar, aqueles que preenchem cada dedinho da minha mão, são como meus irmãos e o meu pai está sempre comigo.

De repente, lembrei-me da carta e falei-lhe. Ficou intrigada por eu saber da existência da carta. Mais intrigada por ver que eu era a única. Relembrei-lhe que a carta tinha sido lida por ocasião do centenário de nascimento dos seus pais, mas parece que esse momento passou por muitos familiares como um vazio e só poucos se lembram. Comentou-me ainda que nunca eles, os filhos dos meus avós, revelariam a existência da carta. Fiquei intrigada. Perguntei-lhe se a carta tinha alguma revelação especial ao que ela me respondeu que não, que a sua estranheza era porque a carta tinha apenas sido escrita para os filhos e que por isso não faria sentido revelá-la. Explique-lhe que os netos são os filhos dos filhos e que fazia todo o sentido partilhar a experiência e palavras do avô. Que decerto seria isso que ele pretenderia, que os seus princípios e vontades fossem prolongados por várias gerações. Disse-lhe ainda que aquela carta era um exemplo daquilo que eu quero levar em frente, como projecto.

Levantou-se e foi buscá-la. Disse-me para a ler em voz alta. E li…

Aquilo que me feriu em 2006 não me magoou nem um pouco, nem passou ao lado. Fez-me sorrir. Por ver que afinal de contas, tirando o facto de não ser uma católica praticante diária, sou não só por sangue, neta do meu avô. No final da carta, sem dar por isso comecei a assumir a carta como se fosse o meu pai a escrevê-la para mim e comecei a engasgar-me e as lágrimas começaram a cair-me docemente como o haviam feito na missa por sua alma a 30 de Junho no Hospital de São José.

Abracei-a quando saí de casa. Agradeceu-me por lá ter ido, por aquele momento e disse-me que me adorava. Retribuí com o mesmo amor.

O caminho para casa a conduzir, foi estranho. Já noite, com o tempo carregado, as lágrimas caíram-me de novo. Mas não de tristeza. De paz e arrebatamento.

Assim que saí do carro as lágrimas enxugaram e o sorriso tomou o seu lugar.

Terminei o final da noite já a entrar no dia dois de 2010, a ver uma comédia romântica que adorei, me fez bem, de título “Proposta” com a Sandra Bullock.

Acho que foi um bom começo de ano :)

E amanhã IUPI!!!!… A minha mais que tudo faz seis anos. Tão crescida… :)