domingo, 31 de agosto de 2008

Suspiro...

Ouvi o teu suspiro, pelo canto do meu ouvido
relembraste-me num repente que estás vivo
A mãe perguntou-me se estavas aqui comigo
respondi-lhe que não, que o suspiro que tinha ouvido
tinha sido como tantos outros que lhe tinha ouvido
sempre que a conversa telefónica se prolongava
respondeu logo depois - Estará aqui comigo?
racionalizou e disse - foi provavelmente a televisão...

suspiro teu ou não, senti que a mãe não estava sózinha
senti como tantas vezes a tua presença paciente
interrompida tantas vezes com suspiros impacientes

lembrei-me do teu assobio inigualável de chamamento
que tal cãozinho ouve o dono, me fazia olhar em volta
procurando em todas as gentes os teus traços
porque só tu assim me chamavas...
e encontrava-te!

nunca mais o ouvi, nem sei imitá-lo, nem o consigo lembrá-lo em sons na minha cabeça
mas sei que se um dia o ouvir, de uma outra boca, me irei voltar para trás e procurar
incessantemente a boca doce que imite tão querido e doce chamamento

sábado, 30 de agosto de 2008

Vai chover

O ar está pesado...
Não sentes?
O mundo está estranho...
Reprimido, em stand-by...
Não sentes?
Está... esquisito...
As pessoas num corre-corre
sem tempo algum para sentir
sem tempo para se aperceber
que algo está a acontecer


Será que vai chover?
Ou já chove e com as pressas
não deu tempo para perceber

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A caminho...


Voltei ao bichinho da genealogia mas de uma forma diferente. Sem pai para mostrar as minhas conquistas e fazer um brilharete, sem família que sinta o que sinto da forma intensa que sinto.


Voltei ao bichinho por mim e para mim, sem qualquer objectivo final apenas o de sentir o caminho. Fazer o meu percurso, aprendendo sentindo o caminho dos meus ascendentes.


Voltei ao bichinho investigando história, contos e lendas fazendo uma festa e um urra! de vitória com qualquer novo dado adquirido. Mas a festa de arromba é quando me reconheço em traços bem ténues, nas características e vida dos meus ascendentes desconhecidos.

Estranho, mas fascinante...


Faço esta viagem em mim ao mesmo tempo que preparo a minha viagem de reencontro com uma investigação exaustiva que me tira horas de sono. Não quero ir visitar igrejas, catedrais ou outros locais de interesse cultural ou turístico. Quero ver onde nasceram, caminhar nas ruas que percorreram, inspirar o mesmo ar, sentir os mesmos cheiros, alimentar-me das mesmas comidas. Quero sentir o que sentiam. E ontem, no caminho para casa, ao pensar na viagem de daqui a uns dias, o que me completou entre locais a visitar, ruas a percorrer, foi a imagem de mim deitada no chão de um vale, no meio do nada, com as mãos a sentir a terra, a olhar para o céu, inspirando e vendo as serras.




quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Crazy Me

Falta a luz, fazem-se filhos. Há crise, aumenta a imigração. Falta a àgua, o cheiro aumenta, a paciência esgota-se, começa a discussão. A perseguição faz com que os perseguidos corram mais rápido, a descontracção com que outros descontraídos apareçam. O casual desleixo por descontracção dá trabalho quando a rotina diária volta. As férias implicam retorno ao reboliço do trabalho. O trabalho não significa necessariamente férias. Volto de férias, a alegria aumenta pela segurança estranha da organização e rotina, passam-se uns dias, visualizo as próximas e projectando-as abre-me o apetite.

De maluco e louco todos temos um pouco. O pouco de maluco em mim, é pouco ao ponto de me deixar louca... saudavelmente louca. Duh!

domingo, 24 de agosto de 2008

Vazio da casa saudade

Não sei se foi o fotógrafo, o deitar-me tarde dias seguidos, sem descanso diário, o dar por mim hoje a ver nascer o dia, sem ter dado pelo tempo passar. Não sei se é do cansaço da intensidade destes últimos dias, mas os dias dez e onze voltaram a mexer em mim, a tocar-me, revivendo em flashes os únicos momentos que teimo em não me recordar. Digo a boca cheia que não estou triste, e não estou, muito pelo contrário, que até nem saudades sinto, porque te sinto sempre em mim, mas hoje o nascer do dia fez-me engolir apressada a palavra saudade. Sinto, muitas... tantas que se me torna impossível identificá-las.

A saudade de ti é uma casa em mim plenamente habitada. Vives em mim e se sais para dar uma volta, o vazio da casa saudade mostra-me o quanto me fazes falta.

Mas não te preocupes, estou bem, com rumo e vontade de percorrer o mundo, com um sorriso sentido na face. Apenas fico apreensiva quando sais sem dar cavaco a ninguém. O que vale é que as tuas voltas são sempre curtas. Love U

sábado, 23 de agosto de 2008

Paraíso na terra


Porque há dias inesquecíveis e o de ontem foi um deles, mesmo com apenas 3 horas de sono, mesmo com o estômago às voltas, o céu, o mar e a companhia deram cabo de tudo o que não tinha valor.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Frases que ficam

Foi lá fora buscar os ausentes para ver os presentes - Maria
Há-de chegar aos 60 anos impossível - João
Aquele senhor tocou-te mesmo. Reavivou muitas recordações - Azul
Estás um borrachinho, gostei mesmo de te ver - Carlucci
E a miúda? - Dav
Que tu disse? - Pequena lua
Mãezinha, podes trazer o fatobanho cor de rosa? - Pequena Lua
O joaquim anda a conversar comigo - Moi
Dá vontade de mergulhar nas suas vidas - Maria

Uma é sete euros, mais do que uma é 3 euros. Fica mais barato... (...) A Nikon roubaram-me, esta é antiga, mas não nas minhas mãos. - Fotógrafo no Bairro Alto

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Uma pitada...


Das férias que ainda não terminaram :)

domingo, 17 de agosto de 2008

Orange


Passamos o primeiro quarto da vida encantados e fascinados com tudo o que é novidade e brilha, o segundo quarto da vida chateados e aborrecidos com a incompreensão dos terceiros quartos, o terceiro quarto da vida saudosista a pensar nos momentos doces do primeiro quarto, a rir das asneiras agora divertidas do segundo quarto de vida e a tentar encontrar o nosso verdadeiro lugar na vida. No último quarto? Com a memória desgastada com tanta hiper-valorização desmedida, agarramos no primeiro quarto e saboreamo-lo. Do segundo quarto até as grainhas engolimos. Do terceiro perguntamos - Quantos gomos é que afinal havia? - e no quarto doce ou azedo, por ser o último gomo da nossa vida saboreamo-lo morosamente como sendo o primeiro e doce encantador gomo da nossa vida.


Quantos gomos tens? Saboreia-los todos por igual? Saltaste um? Ou ainda vais no primeiro? Eu?

Acho que ando a petiscar de todos em igual medida...



Medos

Em pequena via sombras e figuras em todos os relevos que eram levemente iluminados pela luz do corredor que pedia para ficar sempre aberta. Todas as noites tapava a cabeça com o lençol deixando apenas uma nesga para respirar. De manhã quando acordava com a Rosa a trazer-me papa nestum com mel, dizia-me sempre docemente: "oh menina, quando é que deixa de ter medo e de se tapar assim inteirinha? Nem sei como é que respira...". De noite sempre que saía da sala e tinha de percorrer o corredor para os quartos, o método repetia-se... Abre a luz, volta a traz para apagar a última, vira-te rápido, não olhes para trás, passa pela última luz que acendeste, abre a outra, volta atras para apagar a última, vira-te rápido, não olhes para atrás, passa pela última luz e abre a luz do quarto. Era sempre assim... Um dia, anos mais tarde, a Rosa foi-me levar a papa logo pela manhã e a luz do corredor estava apagada e eu com a cabeça destapada. Cheia de orgulho disse-lhe "Vês Rosa? Já sou crescida". Passei a adorar dormir no escuro cerrado, mas a ginástica de luzes do corredor, de vez enquando ainda ocorria. Mas achava que não mais tinha medo do escuro. Mas há poucos dias de repente e no meio do nada vi que tinha. Não do escuro escuro, mas do escuro de lugares desconhecidos. No meio do medo que descontrolavelmente me percorreu chegou a força que o venceu. "Pensa no teu pai, pensa no teu pai!" e aos poucos o medo desapareceu. Não voltei a sentir esse tipo de invasão do meu espaço até há uns dias quando percorria o castelo de Tavira e dei po mim de repente numa rua estreita e subitamente escura durante o dia... do lado esquerdo as escavações arqueológicas do antigo palácio Corte-Real. Primeiro o coração a bater freneticamente e um segundo depois o medo dispersou e virou curiosidade e encanto... sempre me fascinou a arqueologia e mais me fascina pensar que por debaixo das nossas casas existe tanta história, tantas casas e pegadas de alguém.

Agora estou numa varanda debaixo de um céu escuro e estrelado com uma lua cheia que ontem esteve temporariamente vazia e tão igual à minha, e penso - tenho medo? - oh...de tanta coisa! E se calhar o escuro é o menor deles... Mas hoje mais do que nunca sei e confio na mão que me defende e me acarinha.

sábado, 16 de agosto de 2008

Bola de Berlim com creme e afins

De pés enfiados na areia quentinha, a olhar um céu doce azul com nuvens repentinamente colorido com uma enorme e gigante manga a anunciar Martini Rosato, transportada como a medo por um helicopetero e não pelas habituais avionetas, enchi-me de saudades dos momentos de infância em que todas as crianças e adultos/crianças corriam pela praia esbaforidos para tentar apanhar os presentes quentes de verão que caíam do céu. Lembro-me de apanhar de tudo um pouco, desde míseros flyers publicitários, bolas de praia nívea e T-shirts, muitas t-shirts. Tinha a sorte de um dos amigos de longa data do meu pai ser um dos primeiros pilotos a sobrevoar as praias cheio de presentinhos, razão pela qual cheguei a ter uma manga a encher o meu quarto durante uns dias. Mas sem dúvida alguma até um flyer era mais interessante se por mérito o tivesse conquistado. Nessa altura, os pais deixavam-nos correr pela praia fora sem medos. Não sei porque é que deixaram de atirar brindes para a praia, se por uma bola vazia nívea ter acertado na cabeça de alguém importante ou se calhar um flyer golpeou a vista de um outro alguém ou se uma criança menos desenrascada teve dificuldade em encontrar o seu caminho. Nessa altura as bolas de Berlim eram bem apregoadas e as crianças (não os pais) praticamente engoliam o senhor velhinho e queimado pelo sol que com um joelho no chão tentava a custo dar cumprimento a tantas solicitações e ensinando ao mesmo tempo o "quanto custa" e "o teu troco é...". E... haviam bolas de Berlim COM CREME! Não me lembro do dia em que eu ou outro amigo de praia tenha ficado indisposto por a comer... Nessa altura os brinquedos de praia eram raros, balde e pá, ou nenhuns. As brincadeiras centravam-se quase sempre na aventura da descoberta e as misteriosas caminhadas de praia. Ao final de um dia inteiro na praia, estava tudo deitado em grupos pela praia fora.

Em crianças tínhamos o nosso complexo beach linked in tradicional e da forma mais salutar possível. Hoje a praia é cada vez mais um reflexo da individualidade citadina. Leitores de MP3 a rodos, conversa pouca e pouco convívio... a tentativa de reencontro da paz perdida no meio da cidade. Podem já não haver bolas com creme (embora já tenha encontrado algumas, mas não digo a ninguém aonde. É o meu segredo numa tentativa vã de tentar impedir que o ridiculo se propague...), podem não existir presentinhos do céu.... mas graças a Deus ainda há gente que preserva o convívio.

Aos doces dias quentes e sempre supreendentes do verão!

Destruam o lixo, não os doces momentos da vida!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Lovely

Porque é quando não temos tabaco que nos apetece fumar mais.
Porque é quando não temos telemóvel que nos lembramos que temos a quem ligar.
Porque é quando não temos temos computador que nos lembramos do tanto que poderíamos fazer.
Porque é quando não tenho o meu moleskine que me apetece tanto escrever.

Porque é quando não temos aquilo que tomamos como banal e certo na nossa vida, que lhes damos o devido valor... e aprendemos que tudo pode ser tão mais simples e doce na vida se levado com conta, peso e medida.

Nesta noite morna por debaixo de um céu estrelado, encontrei uma caneta no fundo da mala, um canhoto do pingo doce no meio da carteira e quando já não tinha mais espaço para escrever o barman chegou com a conta do café. Um euro e meio que não me importei nada de perder.

Encontra o mais doce nas coisas, mesmo que tudo pareça mal, porque ao final do dia vais ver que a tua vida é tudo menos banal. Apenas depende da forma como a olhas.

(e a escrita parou mas por um ocaso voltou)

Coisas doces? Há segundos atrás, pouco antes das doze badaladas, estava eu a navegar via telemovel pelos meus últimos posts neste blog. Mesmo no começo da leitura do "Sim, foi à tua maneira" o homem ali no palco, que em nada tem a ver com o Frank Sinatra, começou a cantar o My Way. Que melhor final de noite, neste terceiro dia 11? Lovely...

Mirror

Podia falar de imensa coisa sobre estes últimos dias, até porque o livro de cabeceira destas férias de verão é o Coca-cola Killer...

Mas só me apetece dizer uma! A única que não obriga os meus neurónios a funcionar, e que mesmo assim é uma certeza...

Adoro o espelho do elevador do hotel. Faz-me parecer ainda mais alta e tããoooooo magra e elegante! Será por causa do Spa? Lá começa a cabeça a funcionar...

Xau, Fui!!!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Praia

Estendo a toalha
tiro as sandálias
tiro a camisola
deslizo a saia
Abro o creme
despejo na mão
percorro pés
pernas, coxas
ventre e braços
deslizo as alças
envolvo ombros
percorro pescoço
olho para o lado

Poes-me creme?
Deito-me na toalha
sinto o sol a aquecer
fecho os olhos
e espero...

Sinto um arrepio
do creme a tocar-me
pela primeira vez
Adormeço o corpo
ao sentir o creme
percorrer de vagar
cada vértebra
estacionando em
espinha
de cada vez
em despique lento
com outro polegar
pela via rápida
ansioso por optar
barlavento? ou
sotavento...

um último suspiro
devorando mais um
cornetto de morango
Uma música, o calor
com amigos e livros
Sem trabalho, em paz
sem rotinas, despertador
sem pressa de chegar
a qualquer lado
demorando em lugares
sem relógio, computador
nem conselhos a corações
despedaçados

apenas isso paz, calma
a curtir o meu Eu
que anda sempre
e para qualquer lado
bem acompanhado

ONE

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Da minha praia


Já sonhei com histórias de mil e uma noites, onde dançava esvoaçante ao som da música numa tenda cheia de tantos novos sonhos, brilhos, cheiros e intensos, transparentes tecidos...

Já percorri caminhos sinuosos debaixo de um sol intenso, de vidros abertos, música aos berros, cabelos ao vento seguindo o rasto do que os sonhos me diziam ser o meu destino...



Já não sonho como sonhava, já não espero encontrar o que esperava.
Mas sonho...
outros sonhos
Mas percorro...
outros caminhos
de cara lavada


Desta vez voo de outra forma, voo no mesmo céu com uma asa partida
Mas voo...
noutro sentido
Mas procuro...
a minha praia
a minha saída


Voo e sei que nunca voarei sozinha...
os sonhos nunca me pregariam tal partida...


As jangadas flutuarão sempre... para o mais incauto, o mais azarado, o mais desprevenido.
Eu voarei sempre, sempre atenta a qualquer mudança de correntes acautelando o teu caminho...



Pic: Black-Moon-Kitten

domingo, 3 de agosto de 2008

E digo eu...

Dizes tu... e eu digo que a madrugada de Domingo foi das madrugadas estranhamente mais intensas da minha vida. Não estou cansada de copos, música e dança. Fiquei exausta pela intensidade dos momentos, pela complexidade das situações mais simples, pelas decisões simples que se tornaram complexas de tomar, e pela liberdade. A música ao inicio da manhã era uma treta, mas até ela me embalava nos meus pensamentos alucinantes, que ao serem interrompidos por conversas repentinas de estranhos, recebiam um Ya!, desconversando... Sabe bem ser-se quem é, sem preconceitos. E eu, a senhora sempre sorridente, deu-me para em alguns breves momentos, não me apetecer ser o sorriso sempre presente. Ah!!!!!! E soube-me tão bem! Da mesma forma que soube bem o aconchego da manhã a nascer dentro do táxi. Da viagem longa que foi curta. Do silêncio cúmplice que precisava. No momento em que encostei a cabeça na almofada, o meu corpo parou e a minha cabeça continuou a andar... e foi aí que a decisão então complexa, se tornou tão simples de tomar. Por amor...
E sabes, sinto-me com fé na minha decisão e tão cheia em mim por todo o percurso destas horas e acima de tudo por acreditarem em mim. É essa a minha grande vitória... consegui que a guerra acabasse com nenhumas baixas. O Amor conseguiu juntar a Vontade, a Razão e a Responsabilidade, e juntos chegaram a um consenso e começaram a sua caminhada em direcção ao cume daquele monte.

Mistério

Se descrevesse a minha cabeça nestas últimas 22 horas, seria a maior e mais gigantesca confusão. Uma guerra de titãns entre a vontade, a responsabilidade, o amor e a razão. Começou por estar a vencer a vontade, sobrepos-se-lhe a razão e lutam agora juntas a responsabilidade e o amor. A guerra ainda não acabou e já houve vencedores e vencidos. Mas há um que assiste do topo de um monte, ileso, e o qual nunca será vencido, o senhor destino.

"Yesterday is history, tomorrow is a mystery, but today is a gift. That is why it is called the present"
in Panda Kung Fu