segunda-feira, 9 de abril de 2007

Carta ao Mundo

Não, não é por desanimo, descrédito ou desalento...
É com esperança que escrevo...
Cansam-me as pequenas grandes coisas que me envolvem, cansa-me a minha inoperância, cansa-me a falta de acção, cansa-me a podridão... Alheio-me do mal por egoísmo, por amor próprio e por proteccionismo. O belo admiro, o feio escondo-o e fica no vazio. Mas sinto-o... Admiro os que lutam por um mundo melhor, mesmo que seja começando pelo vizinho. Eu? Não faço nada por isso... Não faço caridade, não rezo, não me dedico a uma causa com unhas e dentes... não faço nada... mas acredito... acredito em luz... acredito no amor.
Acredito num mundo sem julgamentos de caractér, fé e personalidade... acredito num mundo assim por amor... se não sofrermos um pouco que seja não conseguimos ver o bonito que temos... se tudo fosse fácil a nada daríamos valor...
Amo e encanto-me todos os dias acreditando num mundo melhor... mas penso que se não existissem guerras, não saberíamos o que é a paz... sem a distância não saberíamos o que é a saudade, sem o ódio não daríamos tanta importância ao amor, sem dor não saberíamos o que é a felicidade, sem medo não saberíamos o que é a coragem, sem as dificuldades não saberíamos o que é a simplicidade, sem o antigo não existiria a novidade, sem tristeza não saberíamos o que é a alegria... sei disso... mas as crianças não... elas são paz, sentem saudade, amam, são corajosas, tudo lhes parece simples, tudo é novidade. Elas são alegria e muito mais puras que nós... não precisam dos opostos para dar valor ao que têm... para elas basta um sorriso e esse sorriso alimenta-as... Enquanto escrevo vêm-me à memória reportagens horrendas sobre maltratos a crianças, notícias alarmantes sobre fome, excesso de comida, doenças e abandono... Será que sorriem? Que dor... Não, se pensarem como adultos não sorriem de certeza... eu não consigo... mas acredito que a mais pequena coisa as faça sorrir se puderem... um sorriso, um carinho, dar a mão... Que egoísta que sou... E ainda por cima acho-me boazinha! Não... não pode ser... e sei que ao terminar de escrever nada vou fazer... Quem sou eu para falar de bondade, se nada faço para mudar aquilo que vejo, não gosto e afasto para não me deitar abaixo... sim, sinto tudo, mas nada faço, apenas acredito... Sim, sei que acreditar já é um passo gigante... e todos os dias o transmito à minha filha em forma de amor... mas não basta! Sinto-me em falta para com o mundo... não quero deixar para a minha filha, os meus netos o peso e a responsabilidade de o ajudarem... quando já pouco existir por fazer...
Beco sem saída... tenho de agir... tenho de pensar e agir como uma criança... é o mais puro... não implica opostos de valorização... temos de ser crianças...
As árvores servem apenas para trepar, apanhar frutos e dar sombra...
O mar é para nadar e mergulhar...
Os rios são para tomarmos grandes banhocas e matarmos a nossa sede...
O céu é para nos proteger... para nos admirarmos com a sua beleza...
O sol ajuda-nos a ver as coisas bonitas durante o dia...
A lua é o nosso candeeiro durante a noite... e as estrelas? que bonitas...
O fogo? Não tocar... é apenas para nos aquecermos e prepararmos a nossa comidinha...
A terra serve apenas para brincar e plantar...
Meio de transporte? Triciclos, patins e bicicletas... andar de burrinho também deve ser divertido...
Não posso continuar mais... olho para aquilo que à minha filha dá prazer... desenhar... e vejo que as árvores não são só para trepar, colher e proteger... não a vou por a desenhar na areia, ou a pintar pedras como nos outros tempos... uma árvore abaixo...
No estilo de vida dos baixinhos o mar ainda se encontra protegido... mas e os peixinhos? Tornar-se vegetariana? Só se eu der o exemplo...
O céu? Por eles, e só por eles, protegido até tirarem a carta de condução, usarem desodorizantes, fumarem, e irem viver sozinhos com os seus electrodomésticos e mania de cheirinhos...
O sol... sem protector não dá... e a lua ainda lá está, intocável...
O fogo... não mexe...
Meio de transporte? Um dia carro... espero que hibrido (deviam ser gratuitos...)
Mas mesmo assim ainda acredito... vicios, hábitos e rotinas à parte ainda me sinto uma criança...
por isso acredito...
Sejam crianças e acreditem, mesmo que pelo meio se sintam egoístas e inoperantes como eu me sinto, acreditem... dêem paz e transmitam amor... sorriam... para quem conhecem e não conhecem... se sorrirmos com um sorriso sincero de um estranho o dia ilumina-se e com o nosso sorriso iluminamos outro dia de alguém... com amor damos sorrisos, com sorrisos damos amor...e em amor acreditamos... acreditamos que todos podemos fazer a diferença e tornar o mundo onde vivemos num mundo melhor...
É o mais importante, não é? Amor... e as crianças sabem-no tão bem... por isso sorriem... sabem que nos conquistam apenas com um sorriso...
Vamor re-aprender com elas? Vamos assumir os nossos erros e mostrarmos-lhes o que fizemos de mal, para que um dia mais velhos não errem nos mesmos erros que nós?

1 comentário:

  1. Grande post, e já agora ... grande em tamanho também. Ao ler-te vieram-me à cabeça duas citações:

    "The first step to change something is to look at it with your heart" de Sagrav Iur

    "We must become the change we want to see in the world" de Mahatma Gandhi

    Conclusão: quando olhares ao espelho e vires uma criança, estás no caminho certo.

    Beijos

    ResponderEliminar