sábado, 18 de abril de 2009

Abraço-te...

Ontem fui ao velório de uma tia, meia-irmã do meu pai, que nunca conheci.

Como a minha mãe ainda estava em viagem, fui sozinha, representando a primeira família do meu avô. Quando lá cheguei estavam os meus tios e primos, da segunda família do meu avô, que apenas conheci no velório do meu pai, há já quase um ano.

Não me senti um único momento só…

Não me senti um único momento como a mais…

Senti-me sempre como se fizesse parte…

Senti que a minha presença, a minha paz, o meu sorriso foi importante…

Senti que a minha presença mudou algo…

Senti-me sugada do amor que transportava… que voltava a mim em carinho e mensagens…

Senti-me elo… força… união…

Senti-me encantada por confirmar, mais uma vez, que somos tão iguais, que partilhamos algo tão maior que se torna indiferente se nos conhecemos há uma vida ou apenas um ano… Carinho e ternura é o bem mais valioso que jorra desta família ao ritmo do bombar de corações…

Hoje na missa de corpo presente o padre começou a falar e pensei para mim “onde é que foram buscar este padre…”, por ser surreal, estranho… Lia as orações sem aquele ritmo a que estamos habituados. Falava de uma forma estranha e estava a achá-lo um pouco chato. Mas no momento em que pos o livro de lado e começou a falar para os presentes, a divagar, a filosofar, chamou-me a atenção… Catolicismo à parte começou a falar da partida, da morte, da saudade, de que as pessoas só morrem quando para nós não têm qualquer valor, só morrem quando nos deixamos de lembrar delas. O corpo é a personificação do palpável compreendido pelos humanos. Não é pelo corpo que nos afeiçoamos…

Independemente destas palavras, as quais ouvi e anui, por ter compreendido há quase um ano, o acto de benzer o caixão com água benta, continua a mexer comigo… como aconteceu com o meu pai. Fechar o caixão e a cremação não me incomoda. A benção mexe…

A missa acabou, os agentes da funerária começaram a tratar do caixão e um primo virou-se para o irmão e disse “Somos nós que vamos levar a tia” e transportaram o caixão até ao carro funerário sobre o olhar calmo e silencioso de todos os presentes. Começou a chover…

Fiquei ali na escadaria, sozinha, em silêncio a absorver toda aquela paz…

Os carros partiram e fiquei lá mais um pouco, junto com tios e primos que não seguiram para o cemitério. Ainda conheci mais um tio, que apareceu dizendo: “Disseram-me que és filha do Manuel”.

No meio da chuva, sem chapéu, comecei a despedir-me…

Ultimamente tenho-me mantido rígida sempre que alguém que mal conheço me abraça, não devolvendo os abraços em sintonia.

Hoje deixei-me abraçar e abracei, arrebatada, desprotegida, por quem supostamente conheço há pouco tempo e com quem apenas estive três vezes em toda a minha vida. No meio de abraços sem lágrimas e com sorrisos das nossas bocas saíram as palavras mais doces e sentidas. Percorreram corpo, bateram no coração, brilharam nos olhos e saíram pela boca em direcção ao meu coração.

O amor sem barreiras é a primeira e grande maravilha do mundo, da vida!

A morte até é bonita… Traz ao de cima todos os mais verdadeiros sentimentos… As máscaras, as falsas defesas desaparecem por de repente parecerem não ter qualquer sentido em algo tão arrebatador como o fim, o início…

Levo para sempre comigo os sentidos abraços, os doces olhares, as mãos cheias de experiência e vida e as palavras sinceras sussurradas ao meu ouvido… de ontem, de hoje, de sempre.

2 comentários:

  1. Lua do Meu Coração :) :) :) TE ADORO

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  2. Maravilho-me.
    tens o poder de gotejar a emoção na alma como os sentimentos do Pai gotejaram o teu coração.
    Creia, ele estava lá... espreitando-te. verificando o quando teu ser cresceu desde a partida. confirmando o quanto já eras grande!

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