segunda-feira, 13 de abril de 2009

Re-Conhecer

Lembro-me de te ver pela primeira vez pequenino embrulhado em montes de roupa junto da tua mãe ainda na maternidade.

Lembro-me que muito embora me roubasses o titulo da neta mais nova nunca senti ciúmes.

Lembro-me de pensar que tinha mais um amigo com quem brincar. E eras tão giro...

Lembro-me de te deixar cair da escadaria da casa dos avós e te dizer para não seres maricas, para não chorares. Tudo para não ficar de castigo, por te ter pegado ao colo e subido escadas quando todos me tinham dito para não o fazer. Mas eu gostava de te levar para todo o lado comigo...

Lembro-me de já com 5 anos te por no ombro e virar-te de pernas para o ar. Tu não gostavas nada e eu continuava a dizer-te... vá não sejas mariquinhas que é giro. Tudo porque eu adorava que o nosso primo mais velho me fizesse isso. Queria apenas que gostasses...

Lembro-me de pormos malaguetas dos olhos, tudo porque queríamos brincar aos cozinhados com todas as ervinhas e coisas coloridas que encontrassemos no páteo dos avós. Que dor... Ficámos deitados ao lado um do outro um dia inteiro com pachos de agua nos olhos, sem ver...

Lembro-me de a nossa prima cassula crescer e de me aperceber que por vocês serem mais próximos de idade, deixaria em breve de brincar contigo. Triste...

Depois um pouco à força cresci... Acho que foi o meu primeiro desprendimento da vida...

O teu pai partiu cedo e ficaste em silêncio.

Observei-te de longe durante anos, preocupada contigo, pensando no que sentirias, se estarias triste, se eras feliz.

Passaram-se quase vinte anos e tu, mesmo presente e sempre a rires das minhas palhaçadas ou saídas, continuavas distante.

Passaram-se mais dois e o meu pai partiu. Abraçaste-me e em seis palavras deste-me o conforto que poucos conseguiram.

Olhei para ti como "olha... ele cresceu... e está bem", e fiquei feliz.

Foi preciso irmos a Roma para nos reencontrarmos, sentarmos, falarmos sem pudor, abrirmos o peito e conhecermo-nos muito para além das memórias de infância.

No Natal ficámos horas a falar, e mais tempo houvesse, mais horas falaríamos. E cada vez mais senti que mais te conhecia, que mais gostava de ti.

Mas ontem via msn surpreendeste-me com todas as tuas saídas...
Olhas para mim com admiração, eu sei, mas eu olho para ti cheia de orgulho, sabias?

Priminho :)

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