sábado, 16 de agosto de 2008

Bola de Berlim com creme e afins

De pés enfiados na areia quentinha, a olhar um céu doce azul com nuvens repentinamente colorido com uma enorme e gigante manga a anunciar Martini Rosato, transportada como a medo por um helicopetero e não pelas habituais avionetas, enchi-me de saudades dos momentos de infância em que todas as crianças e adultos/crianças corriam pela praia esbaforidos para tentar apanhar os presentes quentes de verão que caíam do céu. Lembro-me de apanhar de tudo um pouco, desde míseros flyers publicitários, bolas de praia nívea e T-shirts, muitas t-shirts. Tinha a sorte de um dos amigos de longa data do meu pai ser um dos primeiros pilotos a sobrevoar as praias cheio de presentinhos, razão pela qual cheguei a ter uma manga a encher o meu quarto durante uns dias. Mas sem dúvida alguma até um flyer era mais interessante se por mérito o tivesse conquistado. Nessa altura, os pais deixavam-nos correr pela praia fora sem medos. Não sei porque é que deixaram de atirar brindes para a praia, se por uma bola vazia nívea ter acertado na cabeça de alguém importante ou se calhar um flyer golpeou a vista de um outro alguém ou se uma criança menos desenrascada teve dificuldade em encontrar o seu caminho. Nessa altura as bolas de Berlim eram bem apregoadas e as crianças (não os pais) praticamente engoliam o senhor velhinho e queimado pelo sol que com um joelho no chão tentava a custo dar cumprimento a tantas solicitações e ensinando ao mesmo tempo o "quanto custa" e "o teu troco é...". E... haviam bolas de Berlim COM CREME! Não me lembro do dia em que eu ou outro amigo de praia tenha ficado indisposto por a comer... Nessa altura os brinquedos de praia eram raros, balde e pá, ou nenhuns. As brincadeiras centravam-se quase sempre na aventura da descoberta e as misteriosas caminhadas de praia. Ao final de um dia inteiro na praia, estava tudo deitado em grupos pela praia fora.

Em crianças tínhamos o nosso complexo beach linked in tradicional e da forma mais salutar possível. Hoje a praia é cada vez mais um reflexo da individualidade citadina. Leitores de MP3 a rodos, conversa pouca e pouco convívio... a tentativa de reencontro da paz perdida no meio da cidade. Podem já não haver bolas com creme (embora já tenha encontrado algumas, mas não digo a ninguém aonde. É o meu segredo numa tentativa vã de tentar impedir que o ridiculo se propague...), podem não existir presentinhos do céu.... mas graças a Deus ainda há gente que preserva o convívio.

Aos doces dias quentes e sempre supreendentes do verão!

Destruam o lixo, não os doces momentos da vida!

1 comentário:

  1. eu já amava você. agora o amor virou paixão!
    seu texto trouxe-me de volta as longas tardes da infância, quando o tempo era companheiro da gente e ajudava a viver. eu podia sair de casa e caminhar solto pelas ruas, sem medo das esquinas, ou das janelas fechadas, sem medo das pessoas...
    o que fizemos de nosso mundo?

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