segunda-feira, 21 de maio de 2007

Fragmentos de uma vida que não minha

"Ah... Bons tempos esses! Lembro-me como se fosse hoje... Fazia um farnel, enrolava uma camisola, metia tudo numa mochila e fazia-me ao caminho. Já nem me lembro com quem ía, tudo homens decerto... E lá partíamos de Lisboa rumo à Arrábida. Poucos carros havia e a ponte Salazar, hoje 25 de Abril, nem existia. Íamos a pé até ao cais e apanhávamos o barco. Ao atravessarmos o Tejo víamos golfinhos até que chegavamos à outra margem. Como íamos até à Arrábida? A pé e à boleia em carroças... O caminho era a maior aventura, o prémio da aventura? A paisagem... País diferente este em que vivemos... Se fui preso? Oh! tantas vezes! Não sei quantas vezes fui parar à esquadra do Campo Grande... por jogar à bola nos jardins... o maior castigo era ficar sem a bola... Mas onde é que eu ía? Já me perdi... Lembro-me mais da minha infância hoje com oitenta e seis anos do que comi hoje ao almoço... Afinal, o que é que comi mesmo?"

Fragmentos de conversas que tive com o meu pai

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