quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Uma Viagem especial....

Hoje assim do nada, na terapia diária de condução do meu simples carro em marcha moderada pela faixa da direita do IC19 com destino a casa, depois de um dia atribulado de trabalho que terminou com o fecho do escritório a rir de uma qualquer piada, dei por mim, assim, de um momento para o outro com os olhos inundados de água. Não caiam… apenas tornavam os meus olhos vidrados e me turvavam a visão através do pára-brisas sujo por falta de água no depósito do limpa-vidros. Irónico… Excesso de água de um lado, secura de outro. Levei com uma valente e súbita ‘porrada’ de saudades e num misto de tristeza e felicidade inundei-me.

Triste pela falta, feliz por recordar-TE como tu quererias. Pensei e lembrei-me de milhares de coisas ao mesmo tempo, recordei bons e menos bons momentos. E a mil no cérebro e cada vez mais lenta marcha, aproveitei a viagem para estar um pouco mais perto de ti.

A lua espreitava-me pelo canto superior direito do pára-brisas enquanto a minha mente voava e o meu coração te vivia. E se por algum momento ela se escondia em alguma esquina da porta do meu carro, eu esticava-me para a reencontrar, parando por momentos qualquer pensamento fluido, como se a verificar se ainda ali estava. E estava, linda, num anoitecer meio avermelhado.

Lembrei-me do teu sorriso, das tuas saídas perfeitas, da tua atitude altiva mas sempre simpática, das tuas tiradas sarcásticas, do teu olhar de “se pensas que me enganas estás complemente enganada”, da sintonia dos nossos olhados cruzados, do teu sorriso tímido e corado daquelas poucas vezes em que algo (nunca alguém) te deixava atrapalhado.

Lembrei-me da tua missa de corpo presente e sim, podes ficar contente, até pensei em pensar nos últimos dois dias, aqueles… sabes? Mas a velocidade do meu pensamento não me deixou prender a qualquer um desses tristes pensamentos.

Pensei que ainda não tinha entrado naquela que foi a tua casa durante a tua infância e adolescência, mas rapidamente pensei que vou a Trás-os-Montes e que teria de começar a programar uma ida a Moçambique. Senti-me a impor-me um novo desafio, algo que não posso morrer sem cumprir e fiquei nem triste, nem contente, mas com um sentimento de quem acaba de tomar uma decisão definitiva.

Lembrei-me de algumas sensações que tive aquando da ausência por motivos de férias dos meus namoradinhos da juventude. Lembrei-me de ter sentido que já não me lembrava bem das suas caras, que as fotografias que tinha não mostravam bem aquilo que eu queria lembrar, que já não me lembrava bem das suas vozes e lembrei-me do medo que senti… “E se eu me esquecer, e se eu não me conseguir recordar”. Pensei nisso e sorri. É isto o amor maior, é esta a maior prova de amor por ti… Lembrar-me de todos as tuas expressões, da tua voz, do teu abraço, do teu olhar, da tua forma de andar, de todas as respostas que sei que darias em qualquer situação, relembrar-te como querias que eu te recordasse, como se nunca, nunca, tivesses saído daqui, como se hoje fosses comprar comigo o jantar, como se estivesses apenas ali, sentado no mapple, de mãos postas em ‘v’ com as pontas dos dedos encostadas aos lábios a olhar para mim a conversar encantado. Como se tivesses a preparar para me começar a ensinar uma valsa… Como se tivesses hoje aqui, mesmo ao pé de mim, ali no lugar do pendura a acompanhar-me, como se tivesse acabo de tirar a carta. Estás… e hoje deixei-me conduzir-me pelo caminho mais longo, fiz mais um desvio, andei para a frente e para trás, dupliquei a quilometragem de uma viagem normal de carro, para me sentir assim, mesmo com os olhos inundados, mas ao pé de ti. Tão perto…

Enquanto te sentia ouvia a última música (brilhante) do mais recente álbum dos Muse. Agora, enquanto escrevo oiço Freedom (de Braveheart) – a música que ouvia quando estavas doente -.

Agora escrevo-te na tentativa vã de prolongar este meu sentimento, mas com a consciência que um dia este texto que hoje escrevo me vai relembrar aquilo que a vida me tentará com as suas tropelias fazer esquecer… Um único e inesquecível momento.

Love U

1 comentário:

  1. entendo perfeitamente o sentimento e o escrito dele decorrente.
    é puro amor.
    é o exemplo da maior presença possível, em um ambiente de ausência...
    isso é bom.

    mas, por favor, não olhe apenas através do parabrisa, ou para a lua.
    olhe o espelho.
    olhe-se no espelho.
    e busca entender que a vida real está do lado de cá.
    aqui, onde os que foram gostariam de ver você completa "numa viagem especial"... e, nunca, faltando um pedaço.

    (gosto de seus textos. aprendi a gostar de você neles. o texto está maravilhoso. de uma ternura antiga e forte. mas quero-a mais otimista... pode ser?)

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