segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Variações

Eram 11:00 AM quando me liguei à corrente e escrevi sem publicar:

“Deitei-me às 5:50am, levantei-me sem despertador às 10:00am. Estou fresca.
Às 5:00am os meus olhos aguentavam-se abertos à conta de desafios, desafios que foram derrotados pelo excessivo cansaço que trazia no corpo depois de um final de tarde de tremendo reboliço no quarto. A terapia... arrumações.

Arrumar para sentir a minha vida um pouco mais arrumada, pelo menos no espaço que me envolve. É um começo. Entre caixas e sacos de vácuo a encher de roupa de verão, gavetas e roupeiros a encher de roupa de inverno, casacos a pendurar para limpar a seco e sacos a encher de roupa fora de uso ou justa (sim, estou menos magra), por onde antes parecera ter passado um vendaval, hoje existe organização. Enquanto quase desfalecia nas arrumações, sim, sou um furacão (o que odeio fazer tenho de fazer bem, mas o mais rápido possível), a cabeça continua a tentava desvendar mais um mistério das minhas investigações genealógicas, provocado por um hiato de tempo sem livros paroquiais, exactamente o período que pretendia investigar. Nos pequenos intervalos de desgaste físico, parava. Sentava-me à frente do computador e ligava à minha mãe para lhe dar as minhas últimas teorias sobre o estranho caso da inexistência de um Abílio nos registos da paróquia. Às 11:00PM decidi jantar, ver o King Kong, só para vegetar. Ainda não totalmente satisfeita de filmes, e sem vontade para me deitar vi o Último Samurai. Sei que estava quase a adormecer mas só uma imagem me vinha à cabeça. Quando falava ao telefone com a minha mãe, no final de tarde, nos intervalos das minhas arrumações, sentada na cozinha à frente do computador, olhava pela janela e via o n.º de telefone de um apartamento à venda no prédio da frente. Houve um momento em que abriram uma das janelas e os cinco primeiros dígitos do telefone ficaram escondidos pela janela não aberta. Restaram apenas quatro dígitos visíveis - 1845. Levantei-me do sofá, decidida a procurar nos arquivos digitalizados do etombo um casamento realizado na paróquia alvo das minhas investigações. Procurava o apelido Ribeiro... Existiram apenas três casamentos nesse ano de 1845 e um deles tinha como nubente um Ribeiro. Fixei-me no nome embora não me tenha trazido nenhuma conclusão para as minhas investigações, a não ser que aqueles deveriam ser os avós do Abílio que tanto procuro que nem familiar directo me é, mas que com o conhecimento da sua família me ajudaria a dar certezas sobre a casa onde o meu pai nasceu. Eram 5:00am, cinquenta minutos antes de me deitar quando comecei a pensar e a preocupar-me com as coisas que tenho de fazer nos próximos tempos no trabalho e que sinto não ter tempo para fazer tudo e cumprir com os meus objectivos... Pensei em ausências e como as pessoas que gosto têm uma forma de dedicação tão diferente da minha, ao ponto de pensar se existe algum equilíbrio na minha forma de gostar com a forma que os outros têm de gostar de mim. Não é que dê alguma importância a isso, mas com algumas, raríssimas, pessoas, talvez as que preencham mais os meus pedaços, isso acontece, parece que falta um pedaço quando não há equilíbrio... Bom, entrei em loop, com suores frios, com o coração a bater a mil à hora. Terminei o que me tinha obrigado a fazer e fui-me deitar, desanimada, com um sentimento de perda e de "o que é que eu ando a fazer à minha vida"... Caí redonda na cama... Acordei com um pesadelo às 9:30am, chorei no sonho (que ainda agora me recordo) e levantei-me às 10:am, com vontade de viver o dia, mesmo com cinco horas estendida e umas duas horas de sono (suponho) descansado. Estranho...
Pequeno-almoço...
Fui arrumar, desta vez, hi hi nova terapia, as últimas cópias de documentos antigos que preenchem mais um pedacinho das minhas investigações históricas. Já há meses que não tocava no meu canto de arquivo de investigações. Fiquei admirada quando dei por mim a verificar o tanto que já pesquisei, o tanto que descobri e os documentos e livros que já criei. Fiquei orgulhosa do que já fiz e alcancei... e mais orgulhosa por ainda continuar, de quando em vez (tem de ser por ciclos, por preservação de sanidade mental), a envolver-me naquela que é uma investigação de vida, a procura do conhecimento de todos os que permitiram hoje aqui estar e ter os pais que tenho e a miúda mais querida do universo.
Terminadas ‘essas’ arrumações, programada para ir mexer em mais um canto há muito não mexido, virei-me para a minha filha e disse-lhe:
- Sabes amor, tu tens um tesourinho... Quando nascestes recebeste presentes e até aos teus três anos reuni coisas que achei que um dia acharias graça... Fica aí sentada que vou buscar...
Trouxe-lhe duas caixas. Uma com os presentes que recebeu quando nasceu e quando foi baptizada. Colheres, medalhas, fios, etc. A reacção da pequena era de "Uau!" e rapidamente confiscou para si, para sempre, para uso diário, um fio com uma cruz. A segunda caixa até a mim me deixou deliciada, por já não me lembrar de tudo o que continha. Os selos emitidos no ano do seu nascimento, as moedas, os seus primeiros desenhos, os anuários de várias revistas do ano em que nasceu, o Borda d'Agua, uma colecção de cromos do europeu de futebol do ano em que nasceu (mais uma bolsinha com os cromos repetidos), uma revista dedicada ao percurso fabuloso mas não vitorioso do SCP na taça Uefa no mesmo ano e duas revistas dedicadas à vitória do SLB no campeonato nesse ano. Orgulhosa, olhei para estas últimas três edições e pensei para os meus botões... "Até mesmo aqui permiti-lhe a escolha. Para salvaguarda, guardei-lhe os dois diferentes tipos de publicações. Gostaria que tivesse escolhido o meu clube, mas desde pequena que ela escolheu. E é essa escolha, o meu respeito pela decisão, que a faz ser uma adepta saudável, que gosta do meu clube mesmo não sendo o do coração dela, pelo simples facto de ser o clube da mãe".

Agora, exposta a evolução de temporário bem-estar, vou comer pato à Pequim”

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