sexta-feira, 25 de abril de 2008

Eles não sabem que o sonho...


Saudades dos idealistas, sonhadores, lutadores de vida...

Não vivi, nunca percebi a intensidade de uma revolução.

Mas tive a sorte de viver do resultado de uma feita de sonhos, ideais e paz.

Dou por mim ultimamente a ver como facilmente nos esquecemos, nos deixamos levar pelos ideais dos outros, nos adaptamos sem questionar, auto-formatando o que parece ser o nosso ideal com frases feitas de outros que um dia colocaram num papel o seu pensar. Tomamos citações ideológicas de outros como se fossem o nosso objectivo, como se fossemos os seus criadores, por parecer bem, por acharmos que assim movemos milhões. Aceito a formatação pelo bem social, pelo equilibrio entre o bom e mau, pela sobrevivência do ser humano. Incomóda-me a auto-formatação, falar, citar e tentar influenciar sobre aquilo que nunca se sentiu. O vestir peles que não as nossas, sem sentir a pele que se veste. Ultimamente vejo-me rodeada disto... De pessoas vestidas de "O Segredo", de cheias de "Vamo lá!", de "Vamo ganhar esta guerra!".... mas... que guerra? A única 'guerra' que pondero é a de uma luta interior, incontrolável e insaciável no sentido de a cada segundo conhecermos um pouco mais de nós próprios, com todas as suas alegrias, desilusões, tristezas e emoções. Sem nos conhecermos, sem nos aprofundarmos não existe um Eu, não existem ideais, não sabemos por que lutar com coração de leão. Sem essa guerra interior nunca saberemos o que é a nossa paz.


Em jeito de homenagem a todos os idealistas e sonhadores que ainda vou encontrando no meu caminho:


Pedra Filosofal - António Gedeão

"Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,

passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança

como bola colorida
entre as mãos de uma criança"


3 comentários:

  1. Porque as senti... as tuas palavras são minhas ... agora.

    ResponderEliminar
  2. gosto de ler você.
    palavras brotam de dentro
    como água sob a pedra,
    como sol que rompe nuvem.
    gosto de ler você.

    ResponderEliminar
  3. :)

    Solta os pincéis e pinta também tu teus sonhos.


    Beijos enormes

    ResponderEliminar