terça-feira, 5 de maio de 2009

Amanhã

Vou fazer como habitualmente faço. Começo com uma série de questões, deambulo em palavras, deixo de me questionar das primeiras questões, que entretanto deixam de ter importância com o aparecimento de novas questões do seu resultado. É nesse momento em que começo a falar contigo, é esse o momento em que perguntando automaticamente recebo a resposta. É nesse momento que me apercebo que as coisas são verdadeiramente simples e que mil perguntas não se resumem a mil respostas, mas sim a uma única resposta. É nesse momento que satisfeita com o resultado me pergunto sempre: Será que fui eu que escrevi? Será que escrevi sozinha?

No outro dia escrevi sobre o limbo, carros funerários e ambulâncias, como se a exorcizar os meus sentimentos, em busca de sossego. Se resultou? Hoje quando uma ambulância passou por mim, achei que sim.

É por isso que hoje escrevo, numa nova tentativa de expor o que me fere, e que me fere faz amanhã um ano. Os únicos momentos do meu pai que me fazem sentir verdadeiramente triste. O primeiro dia dos seus últimos dias antes de partir. Mórbido ou não, é necessário. Relembrá-los com a esperança de me deixarem triste apenas e só mais uma vez. Imprescindível para cumprir a sua sempre vontade: Relembrá-lo bem e feliz.

Entretanto com as mãos apoiadas na base do computador estico os dedos sobre o teclado, olho para o brilho que sai do monitor como se a arranjar coragem para escrever…

Tenho o dedo golpeado por vidros partidos

A Joana, como estará a Joana…

E a tia Maria Helena, como estará…

Vou dar uma volta e já venho…


Volto… não me leio

Escrevo… Já alguma vez mencionei que é no meio de uma divisão supostamente fria, que escrevo? Tenho escritório, espaço na sala, mas é na cozinha que escrevo, trabalho nos meus exceis, organizo as minhas fotos e me envolvo nos meus projectos. Manias…

Vou comer…

Escrevo amanhã...

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